sexta-feira, 27 de maio de 2011

SP: Quem conta um conto... - Tonton

Um barato...

Por Antonio Nunes (Tonton)


Eles estavam que estavam... Hormônios em ebulição. Plena noite de sábado. O desejo à flor da pele... Como os pais dela não davam sopa — e nessa idade não se pode dar sopa mesmo, não é verdade? —, os dois adolescentes decidiram ir para o único lugar cabível por aquelas horas. Chegaram ao shopping e foram direto para a bilheteria do cinema. Até que a fila não estava das maiores... “Ainda bem!” — devem ter pensado eles... Bom, se entretiveram com alguns beijinhos enquanto a fila andava.

— Qual o filme e a sessão? — perguntou a moça da bilheteria.

— Qual o filme e a sessão? — voltou a insistir, agora já não tão cordial quanto antes.

— O da sessão mais próxima, o que começar primeiro! — respondeu ele, como se buscasse a confirmação dela, ao que foi aprovado com um balançar de cabeça.

Bilhetes em mãos, lá foram eles para mais uma fila. Bom, pelo menos tinham tempo para mais alguns beijinhos. E quem nunca trocou beijinhos no cinema enquanto as pipocas estouravam?

Bom, bilhetes em mãos, pipocas em outras, lá foram eles para a sala de exibição, bem para o fundo, para a última fileira de assentos, para que pudessem namorar sossegados, é claro.

Aí, sabe como é, né?, o filme que rola, o rolo no filme, rola daqui, rola de lá, vai dando aquele barato... e a coisa vai rolando... e o filme vai passando sem ser visto. Quem se importa com isso nessa idade? Cinema é lugar para namorar, não é para assistir filme! Estou errado? Se eles estivessem a fim mesmo de ver um bom filme — cuja definição, para eles, não sei se se alinha com a sua ou com a minha —, eles teriam locado um DVD. Não é verdade?!?

Namoro de adolescência é um barato, não é mesmo? Boas lembranças... Não sei se vocês as têm, mas as minhas, nem conto... Põe barato nisso! No escurinho do cinema, tudo pode acontecer!

Aí, de repente, mais que de repente, a namoradinha solta um grito horrorizada! Como se não estivesse acreditando no que estava acontecendo. Logo de imediato, uma outra menina, bem à frente dela, também dá um enorme grito quando sente o líquido escorrer-lhe pelo pescoço, atingindo-lhe bem por trás da nuca. “Meu Deus, o que será do meu cabelo?” — deve ter pensado ela, poucas horas depois de ter gasto quase todo o dia no salão de beleza. Afinal, era sábado.

Com os gritos, formou-se um escândalo, e a sessão foi interrompida. Acenderam-se as luzes. Todo mundo queria saber do ocorrido! E todo mundo olhava para trás, para as últimas fileiras, onde estavam as duas escandalosas que, juntas, iniciaram tudo e agora, constrangidas, tentavam acalmar-se do susto.

O namorado da primeira tentava achar a barata que pousara no ombro de sua namorada, enquanto o da outra tentava, com lencinhos de papel, enxugar-lhe os cabelos, infelizmente sem qualquer forma e encharcados, ensopados com o guaraná arremessado para o alto.

Pipoca e guaraná no cinema, uma combinação ótima, para baratas. Vocês sabem bem como é, né? Quase ninguém presta atenção pro final de filme e nem para a pipoca que acaba se esparramando pelo chão, o que é um prato cheio para as baratas. Aí, como tem comida de sobra, elas fazem a festa, elas se empanzinam. E têm que ser rápidas, têm que comer o quanto puderem enquanto o pessoal da limpeza não faz a faxina básica para iniciar a próxima sessão. Só que existem aqueles cinemas em que a limpeza entre sessões consecutivas não é lá essas coisas...

Aí, além da festa, tem sexo à vontade. Claro, de barriga cheia, o que mais elas têm a fazer? Se reproduzirem... E se reproduzem numa velocidade estupenda... Vida de barata se resume a isto: ou estão comendo ou fazendo sexo! Vocês conhecem algumas pessoas exatamente assim? Bom, é melhor deixar pra lá...

Se, naquele momento, a coitada daquela barata estivesse com o barato dela, nada disso teria acontecido. Mas, será que ela é uma barata amada? Será que ela já encontrou o seu barato-metade? Acho que não! Vamos colocar a campanha na rua e providenciar um barato para a barata!

Ah, pode não?!? Foi, me disseram... Eu que esqueci...

Ah, antes que me esqueça. Sabem por que a pipoca e o guaraná no cinema são tão absurdamente caros? Ainda não te explicaram? É porque, com tantas pipocas no chão, as salas têm de ser dedetizadas todos os dias... Eu acho que isso é quase um crime ambiental, mas deixa pra lá... Tenho mais o que fazer, vou comer as minhas pipocas que acabaram de estourar...

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