terça-feira, 13 de outubro de 2009

SP: Pé de Meia Literário (2)

Pé de Meia Literário (2) 
Por Edson Gabriel Garcia 

Os brasileiros quase anônimos e a formação de leitores

Dia desses, no mês passado, estive, como em anos anteriores, participando de um evento literário da Escola Municipal de Ensino Fundamental Mauro F. Gonçalves – Zacarias. Lá reencontrei o Wagner Carbonari, diretor da escola e a Olgair Gomes Garcia, coordenadora pedagógica. Não vi, desta vez, a professora Socorro de Lacerda, grande e sensível comandante da Sala de Leitura, ela mesma uma leitora de enorme sensibilidade. Mas sei que ela sabe das coisas da leitura.

Como sempre, apesar de todas as dificuldade que uma escola pública brasileira tem, o projeto pedagógico que o “pessoal do Zacarias” desenvolve é de primeira. Principalmente no que diz respeito à formação de leitores e escritores, no sentido amplo desses conceitos. Não é de hoje que a escola é referência no quesito formação de educadores, com projeto próprio, junto a outro grupo de escolas, em que pesem as dificuldades administrativas que as sucessivas gestões municipais apresentam.

Desta vez fui vestido de dublê de escritor e jurado de concurso de poesias.

Como escritor, fui entrevistado pelos alunos do quarto ano. Experiência conhecida de todos nós, mas sempre renovada quando se encontra um bom grupo de leitores. Como jurado do concurso de poesias, já na sua quarta edição, me coube a tarefa de indicar dez poemas feitos pelos alunos participantes. Junto com a escolha de outros jurados, escritores e educadores, alguns desses poemas seriam escolhidos para leitura pública e premiação. Até aí nada de muito novo, a não ser o compromisso com a leitura e a escrita, na sofrida periferia paulistana. O novo é o encontro desses escritores iniciantes, de idades as mais variadas possíveis, dos 9 aos quase sessenta anos, numa tarde de sábado, num auditório improvisado, para a leitura dos poemas e para aplaudirem a sua superação e participação no evento. São vitoriosos porque conseguem fazer poemas, depois de muita leitura de outros poetas, sobre coisas corriqueiras do seu cotidiano. E gostam de escrever, de ler e de ouvir.

Esse relato pode parecer bem simples e comum – e na verdade é – mas vale o registro por uma razão também muito simples: é por aí que dará (ou não) a formação de leitores e escritores no país.

É na distância do cotidiano dos milhares de brasileiros – e não nos eventos midiáticos, badalados e sobejamente dispendiosos – que nos tornaremos uma nação de leitores.

Parabéns aos brasileiros da escola municipal Zacarias, periferia de São Paulo, esquecidos da grande mídia e da badalação, pelo trabalho bonito com o qual vão construindo a sua identidade.

É gente como o Wagner, a Olgair e a Socorro e o trabalho que levam adiante na escola que vão fazendo o nosso pé de meia literário.

Sampa, outubro de 2009

EDSON GABRIEL GARCIA
(Educador e escritor)

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