domingo, 6 de setembro de 2009

SP: Vice-Versa de Outubro de 2008

Sábado, 27 de Setembro de 2008


Edson Gabriel Garcia

Manuel Filho 


(Respostas do Edson Gabriel Garcia) 

Como é o seu processo criativo? Você faz sinopse? Escreve um pouco por dia? Faz tudo de uma vez? Gostaria que você comentasse o seu “método” de trabalho. 

Edson Gabriel Garcia: Minha escrita começa no pensamento, na imaginação, na intriga de várias idéias que foram ali guardadas. Algumas idéias são mais fortes que as outras e ganham mais espaço, mais tempo e vão se organizando, pegando corpo, musculatura. Em seguida, ponho no papel rascunho de esquemas, roteiros, anotações de pesquisas, leituras, sinopses ou esboços e começo a escrever, aos poucos, nas brechas de outros trabalhos e leituras. Depois da primeira redação, faço uma ou duas re-leituras e dou a forma final.

Dia desses, um conhecido me parou e disse: “Manuel, quando é que você vai me dar um dos seus livros?” A pessoa imagina que é obrigação do autor e empalidece quando você sugere quando você sugere que ele faça suas compras pela INTERNET. O pior é que, quando você dá, a pessoa não lê e nunca responde dizendo o que achou. Eu já estou perdendo a paciência em ter que explicar o óbvio. Como você reage a isso? 

Edson Gabriel Garcia: Também eu, como você, recebo pedidos dessa natureza. Tenho verdadeira ojeriza por esse tipo de ação: brindes, doações, campanhas. É tudo farinha do mesmo saco. O livro é um produto cultural que tem seu valor como qualquer produto e deve ser assim entendido respeitado. Todos nós que militamos na área da criação, produção, divulgação e estímulo à leitura dos livros, devemos fazer disso uma profissão de fé.

Na prática, diante de situações como essa, costumo indicar locais onde meus livros são encontrados e fazer uma breve explicação sobre o livro e os custos de sua produção. Delicadamente, embora muitas vezes o resultado não seja tão delicado. 

Qual é o livro que você ainda não escreveu? 

Edson Gabriel Garcia: Um livro sobre a liberdade. 

E, retornando o assunto: PONHA A BOCA NO TROMBONE!! 

Edson Gabriel Garcia: Haja trombone! A título de exemplo, me ocorre sugerir a leitura do pequeno texto que fiz para o último boletim da AEILIJ, sobre leiturismo e leituramento. É muito leiturismo no país! 


(Respostas do Manuel Filho) 

Fale um pouco de sua história de leitor. Em que sentido essa história se cruza com sua trajetória de escritor? 

Manuel Filho: Minha história de leitor começa com as revistas em quadrinhos. Sou colecionador e tenho, até hoje, o primeiro gibi que comprei, Satanésio. Aliás, tenho todos que adquiri na vida. Concomitantemente, surgiram os primeiros livros, nas pouquíssimas vezes em que fui aos supermercados com meus pais. Depois, como freqüentador assíduo de bibliotecas, tomei contato com as aventuras de Tintim e, rapidamente, com os livros do meu ídolo, FRANCISCO MARINS. As ilustrações fantásticas dos livros de Lewis Carroll me atraíram e entrei definitivamente no mundo de Alice. Creio que todo esse acesso fez com que eu fosse acumulando variadas informações que se transformaram

em idéias e, em seguida, nas minhas primeiras histórias. A série TAQUARA- PÓCA,
do meu ídolo acima, certamente incutiu em mim o desejo de abordar temas históricos como faço hoje em dia. 

Como surgem os seus livros? 

Manuel Filho: Meus livros têm surgido como resultado de minhas viagens. Viajo sempre que posso e quando estou por lá, volto superabastecido de material: livros, discos, cordéis, postais e centenas de fotos. Fora isso, tenho tomado gosto por conversar com os locais.Já tenho em vídeo algumas conversas e elas são sempre úteis quando preciso sanar alguma dúvida. Guardo ainda, por tabela, os sotaques e algumas expressões regionais Depois, ponho as idéias em ordem, escrevo e me preocupo em verificar em fontes diversas os dados históricos que citei. 

O que mais o agrada como escritor: o processo criador, a produção dos livros, as entrevistas, viagens, reportagens sobre sua obra, ou homenagens? 

Manuel Filho: A pesquisa! Sou compulsivo. Quando começo a pesquisar um assunto, eu não sossego enquanto não encontrar o máximo de informações possíveis. Sempre me sinto “devedor”, acho que ficou faltando alguma coisa que eu não descobri. O diacho é que, depois que acabo o texto, fico com material para mais uns dois ou três livros, mas, raramente volto a um assunto sobre o qual já tenha tratado. Coisas de compulsivo... 

Tem alguma coisa engasgada na sua garganta? Aproveite e bote a boca no trombone... 

Manuel Filho: PASSEATA DE CLÁSSE MÉDIA. Eu não suporto mais isso. Tenho ficado inconformado com esse tipo de campanha onde as pessoas se vestem com seus modelitos mais bonitos, colocam o melhor sorriso no rosto e vão dar uma passeadinha no parque do Ibirapuera a pretexto de começar uma atividade física ou “ lutar por uma causa”. Acaba não servindo nem para uma coisa nem para outra. Pouquissimos se tornam adeptos de exercícios em razão de um dia de atividade e a “ causa”, bem, serve para os atores globais colocarem a camiseta patrocinada e darem algumas entrevistas para a TV. Fico imaginando como se sente aquela mulher da periferia que percebe um caroço no peito e só consegue marcar a mamografia para dali a vários meses e, claro, ainda corre o risco de, no dia de seu exame,deparar-se com uma greve ou algum defeito no aparelho. Como explicar para uma mulher, grávida de oito meses, que não conseguiu fazer um só exame pré-natal, a importância daquela passeata? De que maneira, também, explicá-la para um homem que precisa fazer uma ressonância e só conseguiu uma data para daqui a um ano? A passeata é útil para quem tem um plano de saúde e pode usufruir-se dele, para a imensa maioria da população, sei lá...Não seria melhor gastar essa imensa energia organizando uma passeata até Brasília e exigir que, de verdade, excelentíssimos lutassem efetivamente contra a corrupção, investindo em saúde pública, educação e segurança?

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