terça-feira, 31 de julho de 2012

NE: Intercâmbio Brasil - Argentina (I)


Nesta última semana, tive a satisfação de conhecer a Feira de Livros Infantis de Buenos Aires, Argentina. Incrível! Vale a pena conhecê-la. Lá, além do contato com editores, conversei detidamente com criadores locais sobre o atual panorama da LIJ em nossos países e na América Latina, em geral. Na foto acima, estou ao lado da queridíssima Eleonora Arroyos, uma maravilhosa (pessoa) e ilustradora argentina, em nosso encontro primeiro na Livraria El gato con bote, especializada em LIJ e localizada no bairro de Palermo Viejo, na qual havia uma bela exposição de suas ilustrações (que podem ser vistas ao fundo). Em outro post, darei mais detalhes deste e de outros encontros. Com crianças em Bs As? Recomendo uma visita a esta livraria.

domingo, 29 de julho de 2012

SP: Técnicas de Ilustração - 02 - Bordado



Bordado

A partir de 1994 comecei a desenvolver uma técnica de ilustração utilizando o bordado e, dentro deste, a "aplicação", que dá um caráter tridimensional a essa linguagem visual. Crio primeiro o desenho. Depois, escolho os tecidos e linhas que irei empregar. Transfiro o desenho para o pano, com um carbono próprio. E vou executando a arte final, ora valendo-me de colagem, ora bordando, ora usando os materiais e "ferramentas" (agulha e linha) de costura para criar efeitos especiais e texturas. Pronto o trabalho, será a vez de um bom fotógrafo para que, na reprodução final em livro, se obtenham resultados os mais fiéis possível, em termos de sombra e luz. A ilustração acima foi criada para um cartão de Natal, em 1999, na virada do milênio.


Angela Leite de Souza


sábado, 28 de julho de 2012

SP: Página do Rospo (11)



A GRANDE QUADRILHA


Lá ia o Rospo, braços agitados, correndo pela praça, quando foi avistado pela velha amiga:
—O que aconteceu, meu caro amigo? Está apreensivo... Posso ajudar?...
—Só de ouvir sua voz, Sapabela, já me sinto amparado.
—Mas o que o aflige, meu sapo?

—A quadrilha, a grande quadrilha...
—Que quadrilha?
—Roubou o tempo, o tempo precioso...
—Sem pleonasmo, meu querido. Assim como o amor é sempre grande, o tempo é sempre precioso...
—A quadrilha o roubou...
—Que quadrilha roubou o seu tempo, meu amigo?
—O meu não, o tempo da multidão...
—Vamos com calma. A multidão anda tão ordeira, que parece em nada ter sido “surrupiada”...
—Pois foi mesmo roubada, Sapabela! Essa quadrilha é implacável...
—Que quadrilha é essa, Rospo?
—Seus membros, os piratas da vida...
—Que piratas da vida?
—A vida anda sendo pirateada... Às vezes um glamour nada mais é do que a ausência de clamor.
—Rospo, assim me pego de poesia...
—Essa quadrilha está dispersa, em todos os cantos e nos recantos, que são os supostos aconchegos requentados...
—Muito bem, como o sapo simplesmente nasceu para o requinte deveria recusar o requentado, que é a vida sem autenticidade...Mas, fale mais um pouquinho dessa quadrilha...
—Falarei de seus comparsas...
—Estou esperando.
—Só um pouquinho de alento, Sapabela.
—Claro, veio correndo agitado, todo apavorado...
—Seus membros são: o excesso de televisão.
—Que mais?
—As conversas infrutíferas, as flores banais do cotidiano, os desentendimentos trazendo atritos improdutíveis, inférteis...
—Tem atrito fértil?
—A vida é atrito, o universo, o amor...
—Sei, mas...o que seria um atrito infértil?...
—Indelicadezas, pirraças, invejas, ciumes...
—Engraçado, Rospo... Quando tomo conhecimento de que alguma colega está com inveja ou ciume de alguma conquista, alguma vitória minha, sempre fruto da minha luta, fruto, e não furto, pois às vezes somos furtados em nossos melhores sentimentos. Pois bem, quando sei que despertei ciumes ou inveja, comemoro...
—Comemora?
—Sim, faço um bolo de cenoura, e vivo esse momento tão gostoso na casa onde moro... Festejo, em mim, o fato de provocar ciúmes, inveja...
—Muito bem, mas não se esqueça: Quando for comemorar a inveja de alguma amiga, convide-se.
—Convide-se?
—Sim, isso quer dizer, convide-me. Assim, reforça duplamente a sua alegria, pois estarei ao seu lado...
—Amigo, isso é papo de “paixão por bolo de cenoura”...
— Pois bem sabe, adoro bolo de cenoura...
—Então, Rospo, entendi essa sua quadrilha...
—É isso mesmo! A quadrilha composta dos mais terríveis malfeitores, que são as piadas preconceituosas, as conversas infrutíferas, as agressões, as indelicadezas, os temores, a falta de iniciativa, o marasmo, a rotina... Tudo a nos roubar o tempo, pois, se não sabe, o tempo que se perde jamais se recupera...
—Rospo, qual o primeiro passo para se livrar dessa grande quadrilha?
—Uma vassoura para retirar os entulhos da mente, varrer a mente, deixar a “alma” bem limpa, transparente, se for necessário, um esfregão...
—Sei, ler um bom livro, ouvir uma boa música...
—O passo seguinte é disciplinar o seu querer.... Pois o querer está a nos piscar, basta ter a “boa vontade”. De posse desse querer, da consciência de que se quer o que é bom, basta então, agir em retidão, e viver intensamente, poder dormir num travesseiro de macela. Um travesseiro, eis a grande travessura dos que vivem o dia em sua pureza.
—Rospo, faz tempo não o convido, vamos tomar um licor de anis?... E... um sorvete de …
—Yupiiii!
—Não tem outra forma de dizer que aceita? Esse Yupiiii! é muito escandaloso. Todos estão nos olhando...
—Sapabela, como é bom conversar com você.
—Antídoto para enfrentar quadrilha que rouba o tempo, não é?


MV

sexta-feira, 27 de julho de 2012

SP: Quintas (68)

RELENDO COM A ALMA ARREBITADA


Naturalmente que leio vários livros ao mesmo tempo. Um para o Metrô, um para o amanhecer, e assim por diante. Faço de meu prazer uma novela, é a estética da leitura que o cotidiano me impôs. E agradeço por isso, pela chance de transformar minha vida numa doce disciplina.
Comecei a ler, novamente, após tantos anos, o “Narizinho Arrebitado”, do Lobato. Como ler um livro de Lobato é o mesmo que ler um de Jorge Amado, ou seja, um acontecimento extraordinário em nossas vidas, de fácil e vibrante felicidade... cá estou. No meu caso, felicidade indisfarçável. Ponho-me num sorriso largo, na largura das letras.
Impressionante como Monteiro conseguiu pôr no papel a peraltice das crianças, a algazarra de doçuras.
Esse livro, Reinações de Narizinho, eu tomei emprestado da “Gibilândia”, a Gibiteca que as crianças formaram e que por falta de amplas doações de gibis, está virando uma Livroteca.
A peraltice encantadora das crianças, quando Lúcia se refere às pedras negras do limo, como “Tias Nastácias do Rio”. Lobato teve esse toque de genialidade, algo que foi alcançado por Andersen, quando transformou caixas de fósforos, pequenos objetos e brinquedinhos, em Literatura de imortal encantamento.
Como aprendi a dividir a felicidade quero escrever um pouquinho sobre esse “Narizinho Arrebitado”. Só um pouquinho. Estou celebrando um acordo de cavalheiros com o tempo.
De fato, no Natal de 1920 as crianças receberam um presente extraordinário quando esse livro surgiu. E Lobato trouxe para a mente fecunda e ensolarada da criança, os doces da Tia Anastácia, trouxe também o Gato Félix para o sítio da Dona Benta, que se tornou o sítio de todas as crianças. Dona Benta, a “Vovó mais feliz do mundo”.
Dependendo de certa ótica, certo prisma, hoje, ao observar todos os dependentes tecnológicos atuais, as nossas crianças sem avarandados, penso e ouso afirmar o óbvio: nenhuma criança deveria, jamais, passar a infância sem ler um livro de Monteiro Lobato.
Lobato, que tão magistralmente soube interpretar a oralidade, que em sua época era a tradução da alma, do espírito da época, como sempre será.
O que mais me surpreendeu é que na minha idade eu possa me emocionar e sentir tanta alegria diante de seu texto. Ou estou virando menino novamente ou desde aquele dia, naquela tarde fria quando em minhas mãos segurei o primeiro livro desse autor, estava condenado a crescer de forma lobatiana.

Marciano Vasques

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SP: 25 de julho - Dia Nacional do Escritor

Pessoal querido!

O DIA NACIONAL DO ESCRITOR, comemorado no dia 25 de julho, surgiu na década de 60, através de uma iniciativa de Jorge Amado e João Peregrino Jr, durante a realização do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela UBE do Rio de Janeiro.

Um abraço e parabéns a todos!!
Regina Sormani

terça-feira, 24 de julho de 2012

NE: Pernambucano entre os 100 imperdíveis



A Revista Nova Escola acaba de publicar uma lista contendo 100 sugestões de obras imperdíveis para o público infantil e juvenil. Dentre estes, a adaptação para os quadrinhos de "Conto de escola", de Machado de Assis, realizada pelo ilustrador - e associado da AEILIJ/PE - Silvino. Parabéns, amigo, que venham novas conquistas, pois estar nesta lista é uma premiação e um justo reconhecimento da qualidade do seu trabalho.

Para acessar a lista completa da Revista Nova Escola, clique em
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes-especiais/052.shtml

Associados de outras regionais da AEILIJ também foram recomendaos por esta seleção. Parabéns a todos os colegas que desenvolvem tão belo trabalho, em seu compromisso com a qualidade literária e estética de suas criações. Vale a pena conferir cada um deles!

Em novembro, Silvino participará de uma das mesas da Fliporto Nova Geração, na qual se discorrerá sobre a evolução e a atualidade dos quadrinhos no Brasil e no mundo. Vai ser show! Não percam.

SP: Técnicas de ilustração - 01 - Ecoline



Olá pessoal!

Convite aos ilustradores

A página Técnicas de Ilustração está aberta! Enviem seus trabalhos.



Desta vez, a técnica utilizada foi Ecoline e caneta Micron. Para quem não conhece, ou ainda não utilizou, a Ecoline pode ser considerada uma anilina de boa qualidade, semelhante à aquarela diluída. È muito boa para ilustrar, mas, o inconveniente deste material é que: se o trabalho ficar muito tempo exposto à luz solar, poderá desbotar, gradativamente. A ilustração faz parte do miolo do meu livro: AS AVENTURAS DO PINTINHO AZUL, publicado pela Paulus. O ilustrador foi o Gilberto Marchi.

Um abraço,

Regina Sormani

sábado, 21 de julho de 2012

SP: Página do Rospo (10)

NÃO SE TRATA DE NOSTALGIA



—Rospo, você é saudosista? É nostálgico? Vive em nostalgia?
—De modo algum...
—Mas vive valorizando as coisas boas do passado. Para você o passado é um lugar onde tudo era melhor, era encantador, e maravilhoso.
—Absolutamente não, Sapabela. Estou adorando essa sua provocação. Ocorre que recentemente alguém me disse algo assim, que não se trata de nostalgia: é que os referenciais ainda são muito bons.
—Sei, quando você fala de Taiguara, do “Espírito -que-anda”, do Fellini, da Gigliola...
—Gigliola ainda vive.
—Isso não importa aqui, pois a referência é a sua voz e as suas canções...
—Sei.
—Então, os referenciais ainda são bons?
—Os melhores, ainda. Então, não se trata de passado, de nostalgia, mesmo porque nesse caso o tempo é apenas uma ilusão, uma questão de ótica, compreende? Uma quimera.
—Quimera?
—Sim, Cronos não atua nessas recordações... Pois elas estão fora do tempo. Uma canção que nos conquistou pela sua beleza e pela sua mensagem, que nos foi capaz de invadir o nosso coração, não é de ontem, não pertence ao passado. Tem sapo que diz, de forma boba, que tal coisa é do passado. Isso é do Passado, e debocha, e alguns até leem livro de 2000 anos... O passado não existe para a Arte...
—Certamente. Mas disse algo curioso: que nem tudo no passado era ou foi encantador e maravilhoso...
—Bem sabe, amiga. Em termos mundiais, guerras, e em nosso brejo, muito sofrimento, a exploração dos operários, os preconceitos contra a sapa, as injustiças, tanta coisa...Mas tivemos a Arte, como sempre a teremos...
—E na sua infância, Rospo? Tudo uma maravilha...
—Sabe que não, Sapabela, mas tive os meus reforços, os meus apoios, os meus mecanismos de defesa interior...
—Sempre fala nisso. Mas já sei, o Flash Gordon o salvou...
—Não só ele... Mas, também o próprio contato com a natureza, as folhagens, o velho orvalho deslizando na lisa folha...
—Tem algo triste que o marcou profundamente? Que tenha causado uma profunda impressão em seu ser?
—Quando eu era um sapinho de seis anos, ou cinco... Vi uma cena que me influenciou para o resto de minha vida...
—Expressão esquisita essa, meu amigo! O “O resto de minha vida”...
—É, estranho... Pois é, algo me causou a mais viva impressão...
—Se não quiser falar...
—Vi um cavalo deitado no chão, sendo chicoteado até...
—Não precisa falar mais, Rospo. Pare! Não quero chorar. Mas é incrível essa coisa que você diz de que tinha os seus recursos...
—Maravilhosos, Sapabela. Uma contadora de histórias... Sim, tive uma em casa, os quintais, tudo contribuindo para a prolongação de meu trapiche interior... Para a proteção de minha infância...
—Rospo, podemos dizer que o que era bom ainda é bom, mesmo que a geração atual desconheça?...
—Em nossos dias tão refinados de informação, o desconhecimento é um assombro...
—Deveríamos voltar à época do espanto?
—Sim, espanto no sentido de encanto... Hoje, coisas extraordinária acontecem, mas o encanto não se mobiliza, não se torna forte, real, autêntico. Ele se dissolve no ar... Morre na praia do coração.
—Rospo, então vamos viver o presente intensamente, mas com as coisas que sempre nos comoveram...
—Esse é o caminho, e também compartilhando o que hoje se faz importante no coração...
—Considera que a Rede Social é mesmo a sinalização de um novo tempo?
—Claro, eu posso estar na Rede Social com os espíritos mais encantadores do mundo hoje...A Rede Social, eu já disse, depende de cada um.
—Disse bem. Rospo, a conversa está boa mas não está regada.
—Regada?
—É, um licorzinho, você sabe...
—Demorou!
—Não fez o Yupiiii!
—Não fiz?
—É... Consegue fazer baixinho?
—Yupiiii!
—Isso é baixinho, Rospo?

MV

sexta-feira, 20 de julho de 2012

NE: Terminando as férias...

Prezados amigos e frequentadores deste blog,

É com satisfação que comunico que, como coordenador da Regional Pernambuco da AEILIJ, firmamos parceria com o Suplemento Correio Criança do Correio da Paraíba. Assim, a cada quinze dias, o público terá histórias minhas e de outros criadores associados à AEILIJ de todo o Brasil, bem como contará com entrevistas, ilustrações, resenhas e sugestões de livros. Outras ideias estão por vir...

Esta parceria reforça o compromisso das duas organizações em levar às crianças, em especial as paraibanas, literatura infantil da melhor qualidade, prezando pela qualidade literária e estética deste conteúdo, visando a formação de jovens leitores, para que, neste sentido, possam ampliar sua visão de mundo, da condição humana, contribuindo, também, para o desenvolvimento do senso crítico e da criatividade.

Para acessarem o conteúdo deste suplemento, basta clicar sobre o logo do Correio Criança (no rodapé desta página). Este projeto comum teve início na edição de n. 46. Boa leitura. Divirtam-se!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

SP: Mural - julho de 2012

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NÚMERO 31 - julho de 2012
O Mural é uma agenda cultural postada todo início de mês,
porém, editada ao longo do mês conforme os eventos surgem.
A agenda das bibliotecas é renovada semanalmente.
Amigo associado de qualquer cidade do Estado de São Paulo,
contribua...
aguardamos notícias dos eventos do interior.
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NOTICIAS DE ASSOCIADOS
Colega associado, de toda parte, se tiver uma noticia para nós,
por favor nos envie para que possamos divulgar.
Jamais se sinta desprezado;
sua noticia pode não estar aqui
porque não sabemos a respeito dela,
nos ajude. Obrigado
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“TINHA QUE SER COMIGO?”
NOVO LIVRO DE MANUEL FILHO

Júlia está enfrentando um grave problema na escola: ela é vítima de bullying. A situação chega ao limite quando as agressões de Valkíria e sua turma se espalham pela internet.
Durante o ano letivo ela sofrerá muitas provocações e, entre erros e acertos, irá trilhar caminhos bem perigosos. Nesta jornada, Júlia contará com o apoio de poucos amigos para superar essa difícil fase e recuperar a confiança em si mesma.

Trecho do livro:
San, copiei esses posts que escreveram abaixo de algumas montagens que fizeram com as minhas fotos.
Pegaram uma do meu rosto e colaram no corpo de uma mulher bem gorda presa num poço.
Numa foto do King Kong, aquela em que ele está no alto do edifício, colocaram a cabeça da Solange no lugar da dele e a minha na da mocinha.
E... a pior.
Pegaram uma porca que estava amamentando um monte de porquinhos e puseram minha cabeça no lugar da dela. Escreveram que eu estava alimentando os meus filhinhos.
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“A BALA PERDIDA E O VIOLINO”
NOVO LIVRO DE REGINA GULLA
EM BREVE, LANÇAMENTO.

Mas neste próximo dia 28 ela lança outro livro e convida a todos...


"Os NETOS estão na contagem regressiva para o dia 28, quando o DIÁRIO DE UM NETO será aberto e suas imagens reveladas, aqui na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. As AVÓS e os AVÔS estão mais do que convidados, desde que levem sua Paciência Redonda junto. Tetravós, bisas, bisos, todo mundo, vamos lá FESTEJAR a FAMÍLIA ENCANTADA!"


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ROSANA RIOS NO PROGRAMA “TODO SEU"

Rosana Rios e Luis Flávio Fernandes estiveram no programa “Todo seu” , da TV Gazeta, apresentado por Ronie Von, para apresentar o livro “Enciclonerdia”, da Panda Books.


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“O VESTIDO FLORIDO NOS OLHOS DE APARECIDO”
NOVO LIVRO DE MARCO GODOY
“Chegando quentinho da gráfica mais um filhote, este em parceria com Jonas Ribeiro. Projeto nosso feito com muito carinho e colocado nesse mundão de meu Deus pela nossa queridíssima Cortez  Editora. Já nas livrarias e com lançamento oficial na Bienal Internacional do Livro de São Paulo”
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TEREZA YAMASHITA APRESENTA SEU NOVO BOOK TRAILER

Clique aqui

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RIO DE JANEIRO



FELIPE CAMPOS
“Oi Grupo! Bem, eu ilustrei um livro mês passado e agora estou correndo para fazer a divulgação. Gostaria de convidá-los para o evento que vai acontecer na Livraria da Travessa de Ipanema, Rua Visconde de Pirajá, 572. Será no domingo dia 22, às 16h. 



WORKSHOP “CRIAR PARA CRIANÇA”

Workshop "CRIAR PARA CRIANÇA" com a artista plástica e designer Chris Mazzotta, em agosto no Rio de Janeiro. Associados AEILIJ tem 10% de desconto. 

Todas as informações AQUI
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TREVO DE LEITURAS 2012

Trevo de Leituras é um ciclo promovido pela AEILIJ, com a publicação de um suplemento de resenhas produzidas pelos autores associados. São sempre três livros comentados por três diferentes autores.

Inicialmente hospedado no site Dobras da Leitura sob a coordenação de Rosana Rios, o Trevo é agora publicado diretamente no site da nossa Associação.

A nova coordenação é de Cristina Villaça e Naná Martins.

Conheça aqui os quatro trevos que já tivemos este ano
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terça-feira, 17 de julho de 2012

RS: PROLER comemora 20 anos com atividades na CCMQ

O Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) da Biblioteca Nacional comemora 20 anos com a exposição itinerante Proler: 20 anos de incentivo à leitura no Brasil, que estará em Porto Alegre de 20 a 30 de julho, na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), além de debates, oficinas e outras atividades de leitura.

O Proler foi idealizado para promover ações de valorização da leitura, aumentando o número de leitores em todo o país, por meio de convênios com governos estaduais, municipais e entidades públicas e privadas.

A exposição segue para Cuiabá (MT), Palmas (TO), Recife (PE), Porto Velho (RO) e Teresina (PI).

Confira a programação completa:

20/07 - ABERTURA DO EVENTO – MESA

17h - ABERTURA
Coordenada pela Profª. Carmen Pimentel
(Coordenadora Nacional do PROLER)

17h10 - CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
Prof. Francisco Gregório (Servidor da FBN/SNBP)

17h30 - MESA DE DEBATE
" Leitura e Cidadania”
19h - INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO
PROLER: 20 anos de incentivo à leitura no Brasil

ATIVIDADES PARALELAS:

Dia 21/07 – 8h às 12h
Prof. Francisco Gregório
Oficina: A arte da convivência: os contadores de história
Local: Auditório Luís Cosme

Profª. Katy Navarro
Oficina: Dinâmicas de leitura: compartilhar, ler, interpretar, contar.
Local: Auditório C2

Dia 21/07 – 14h às 18h
Atividades de Práticas Leitoras.
Professores Katy Navarro e Francisco Gregório

Dia 22/07 – 8h às 12h
Prof. Francisco Gregório
Oficina: A arte da convivência: os contadores de história
Local: Auditório Luís Cosme

Profª. Katy Navarro
Oficina: Dinâmicas de leitura: compartilhar, ler, interpretar, contar.
Local: Sala C2

Dia 22/07 – 14h às 18h
Prof. Francisco Gregório
Oficina: A arte da convivência: os contadores de história
Local: Auditório Luís Cosme

Profª. Katy Navarro
Oficina: Dinâmicas de leitura: compartilhar, ler, interpretar, contar.
Local: Sala C2

Dia 22/07 – 18h às 20h
Atividades de Práticas Leitoras.
Professores Katy Navarro e Francisco Gregório.

Postado por H

sábado, 14 de julho de 2012

SP: Página do Rospo (9)



A BENZEDEIRA E O DOUTOR


—Rospo, veja! Erva Cidreira!
—É mesmo! Brotando no cimento, na beira da calçada.
—Isso faz pensar numa pergunta.
—Viva!
—Qual a diferença entre a benzedeira e o doutor?
—Não direi que um é representante da cultura popular e o outro, da cultura acadêmica, científica. Embora, naturalmente, pudesse até ser uma resposta. Mas você quer alguma coisa além, eu a conheço, Sapabela.
—Vá em frente, Rospo.
—A benzedeira era uma sapa que conhecia o segredo das ervas, das plantas, das raízes...Ou seja, era alguém integrada com a natureza, em sintonia com a harmonia das folhas, com os mistérios da natureza... Vivia numa comunhão absoluta com as forças ancestrais das seivas da terra.
—E o doutor?
—É aquele que é dotado de um diploma acadêmico, e que exerce o seu conhecimento nos parâmetros científicos.
—Ele rejeita a sabedoria popular dessas sapas?
—Não exatamente. Não creio nisso. Veja que lá na creche havia um pé de dipirona próximo ao portão.
—E o que tem isso a ver?
—O doutor até sabe que o conhecimento popular não deve ser desprezado. Mas ele segue firme na sua sabedoria científica, e é nela que a Ciência avança, a medicina evolui.
—Muito bem, mas tem uma coisa interessante, Rospo.
—Diga, minha amiga.
—Está no plano da oralidade, onde flui a comunicação de forma mais eficaz entre os sapos...
—Avance.
—Tanto a benzedeira quanto o doutor devem olhar em seu rosto e falar com você, se expressar.
Nem ela nem ele pode dar a sua receita sem ao menos dialogar. Não é possível supor que um ou o outro vá tratar de sua doença sem ao menos lhe dirigir a palavra. Acredito que o começo da cura está na palavra, nos olhos, e só depois no remédio receitado.
—Sapabela, o que está exatamente querendo dizer?
—Que tanto o doutor quanto a benzedeira acumulam e são detentores de um saber que o leigo não tem.
—E então?
—Tanto ela, a curandeira, quanto ele, o cientista, devem ser sempre solícitos. Devem olhar em seus olhos, e ofertar a palavra, edificar um diálogo...
—Continue.
—Não basta uma caneta e um papel para uma receita. A melhor receita começa no verbo, na alma aberta.

MV

quinta-feira, 12 de julho de 2012

SP: Quintas (67)

O EQUILÍBRIO UNIVERSAL


Talvez comam tanta massa os italianos porque o país seja aquático. A natureza sobrevive pelo equilíbrio. Ele é o responsável pela “perseverança universal”. Todos os ingredientes de um organismo estão presentes na infinitude do universo.
O equilíbrio é a fonte inesgotável da sobrevivência. Isso se aplica aos relacionamentos. O respeito é o seu mediador. Não se abusa de uma amizade.
Também é aplicável ao planeta. Como o homem, a partir do XX, passou a interferir no equilíbrio planetário devastando verdes, promovendo queimadas, derramando óleo em esmeraldas, a reação já se faz notar, na confusão climática, no desgoverno da natureza...
A própria interferência no fator tempo, necessário ao bem humano, trouxe prejuízos sem retorno.
A pressa assumiu um vulto inesperado, o tempo tornou-se armadilha contra a paz individual, os coletivos caóticos metropolitanos perderam a sobriedade contemplativa. O homem cismou de enlouquecer Crono.
O hábito do relógio mecanizou-se. A tecnologia não conseguiu ainda resolver a necessidade inerente ao humano, de paz, mansidão e serenidade.
Insatisfeitos lazeres foram inventados como paliativos, ou sedativos para a dor da gregária vida em solidão.
Com o rompimento do equilíbrio e a interferência brusca no tempo, o ser ausentou-se, não mais está presente à mesa, e o sentido da busca afastou-se imperceptivelmente, dissolvendo-se no cotidiano dos fugazes quereres.
Presente à mesa significa reencontrar-se na conversa.
Ausente, o ser não se deu conta da decomposição da alma, e também não percebeu que a intransigência do tempo corrói a sua essência.
Sem saída, caiu nas garras assustadoras do “ter”.
Aceitou passivamente a sua “única condição”, a de consumidor, que lhe é ofertada como substituição da felicidade, como o ilusório que satisfaz. O acúmulo de bens materiais desvinculou-se do “necessário”.
Desprezando as leis universais e naturais de equilíbrio, presentes em seu próprio organismo e em sua própria alma, agiu em conformidade com os ditames industriais, que o levou à tecnologia do conforto inútil, ou seja, em plena avenida Paulista, solitário na multidão, pode receber uma foto em seu celular, mas a tecnologia não conseguiu trazer as soluções das suas necessidades básicas, entre as quais: desvincular-se da tirania do tempo, e restabelecer o olhar calmo como a lua no alto, como o salto do gafanhoto riscando o azul.
A tecnologia maravilhosa ainda não faz sentido na vida humana, tal como deveria, pois convive com a sua miséria e a falta de paz na alma, frutos do desequilíbrio presente em todos os “universos” da vida: o social, o natural, o político e o universal.

Marciano Vasques

terça-feira, 10 de julho de 2012

SP: Quem conta um conto... - Flávia Muniz

Olá! Este mês, trazemos para o espaço descontraído do Quem Conta um Conto uma fábula.
Quem a escreveu foi a escritora da AEI-LIJ Paulista: Flávia Muniz.
A fábula, toda em rimas, conta a história de uma perua que... Bem, leia você mesmo e divirta-se!


O ESPELHO E A PERUA

A confusão começou
Certa vez, no galinheiro,
Quando as aves encontraram
Um espelho no terreiro.

Uma perua vaidosa
Logo quis contar vantagem:
– Com licença, galináceas,
Vim conferir minha imagem!

A pata, torcendo o bico,
Comentou com a vizinha:
– Não vale arrancar as penas
para ficar mais magrinha!

E qual não foi a surpresa
Das aves estabanadas.
O reflexo do espelho,
Só mostrava coisas erradas.

Quem era alta e bela,
Viu-se feiosa e baixinha.
Quem era gorda, mais forte,
Ficou magrela e fraquinha.

– Credo! – grasnou o marreco.
– Cruzes! – o pinto piou.
– Incrível! – cantou o galo.
E o papagaio berrou.

A galinha carijó
Logo e depressa falou:
– Esse espelho tem feitiço,
Foi a bruxa que o mandou!

– Mentira! – disse a perua,
Balançando as pulseiras.
Li esse conto de fadas,
Vocês só dizem besteiras!

Estufou-se, bem danada,
Mostrando o papo vermelho,
E, com pose de malvada,
Fez a pergunta ao espelho:

– Espelho, espelho meu!
Responda se há no mundo
Outra ave mais bonita,
Mais charmosa e elegante,
Mais esperta e fascinante,
Mais incrível e imponente,
Mais formosa do que eu?
Diga logo, espelho meu!!

Os bichos, impressionados,
Ouviram com atenção
A resposta do espelho
À tamanha pretensão:

– Se você quer a verdade
Vou dizê-la, nua e crua,
E mostrar a realidade
Para uma simples perua.

– Você disse que é esperta,
Imponente e charmosa
Mas parece antipática,
Falando assim, toda prosa.

– Desfila o ano inteiro
Como se fosse a tal,
Mas foge do cozinheiro
Quando chega o Natal...

Postado por Eliana Martins às 19:10 


Um comentário:

Terê.12 de julho de 2012 18:15
ÊITA COISA LINDA, amei, parabens...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

SP: Conto que te conto

O MAQUINISTA E A FLOR GIGANTE


Tá vendo aquele homem que vai subindo, moço? Aquele de boné e paletó. Isso! Ele mesmo. Não tira o boné de jeito nenhum. Acho até que toma banho de chuveiro com boné e tudo.
É o boné de quando ele era ferroviário, antes de enlouquecer. Isso mesmo! É ele a quem chamam de “Velho Louco”. É que o senhor é novo aqui na cidade, não conhece as histórias. Mas essa eu conto.
Desde que ele se aposentou, veio morar aqui, em Paranapiacaba. Ninguém liga para ele. Fica o dia inteiro zanzando. Às vezes fica bravo se os moleques provocam. Sabe como é moleque, não é? Gosta de debochar, arrumar confusão. E vira e mexe estão atazanando o pobre.
Sim, ele era ferroviário. Fazia a linha Santos-Jundiaí. Era uma delícia, seu moço. Eu não, nunca viajei de trem nessa linha, mas o meu pai contava, sempre, na hora do almoço. Quando eu era bem menininho até me lembro que segurava a mão do meu pai na estação do Brás. Mas não lembro direito.
Por que ele enlouqueceu? Essa demência eu conto, moço. Ele era maquinista, já disse, no tempo da Maria Fumaça, e numa tarde subia a serra quando avistou a enorme flor azulada. A flor mais imensa do mundo. Pouca gente viu. E quando alguém conta ninguém acredita. Mas ele jura que viu, e até hoje repete essa história maluca.
Diz que a flor é uma menina que desapareceu lá no Saboó, sabe onde isso é? Em Santos. É um bairro pequeno, rodeado de morros. Tem lá um cemitério chamado Cemitério da Filosofia. Sei não, moço, nem tenho ideia. Tem que perguntar para aquela gente de lá, os antigos, eu acho. Só sei que é esse o nome do cemitério.
Essa menina, dizem, corria feliz naquele lugar, e um dia desapareceu. Foi o alvoroço nas mesas de bilhar. No porto só se falou nisso. Ficou assim um tempão. Só se falava nela. Então o maquinista viu a imensa flor azul na serra e enlouqueceu. É o que contam, moço.
Não sei contar mais. Minha mãe também sempre falava desse caso. A menina era muito querida por todos. Era assim naquele tempo, lá no Saboó. Toda criança era como se fosse filho de cada morador, por isso foi um sofrimento danado, nas docas, nos morros, no matadouro. E era uma época de carnaval. Mãe dizia, tenho não, ela morreu. Perdi minha mãe logo cedo. Então, ela dizia que os bailes de carnaval foram todos tristes. Não cabia mais tristeza nos confetes e nas serpentinas. Minha tia Elenice, que sempre que era fevereiro ficava o mês inteiro fantasiada, naquele ano até esqueceu da ilusão. Ninguém podia se conformar, moço. O povo de lá comeu o feijão preto mais melancólico do mundo. Nada fazia aquelas pessoas voltarem a sorrir.
Quando o ferroviário chegou contando a história da flor azul gigante, ninguém quis dar ouvidos. E foi naqueles dias que ele adquiriu o costume de falar sozinho. Diz que é isso que enlouquece.
Veja! Ele sumiu na poeira. Está já misturado naquela fumaça azulada do horizonte.
Acho que toda cidade tem o seu personagem, não é? Aqui é ele, o ferroviário aposentado, o homem louco que viu a flor gigante na serra.

MARCIANO VASQUES


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Olá, pessoal!!!

Conto que te conto, página criada por Marciano Vasques está aberta à participação de todos. Peço que me enviem contos curtos, de uma lauda. Obrigada.
Parabéns Marciano!

Bjs da Regina Sormani

sábado, 7 de julho de 2012

SP: Página do Rospo (8)



A ARTE NÃO SE COMPRA


—Estou muito feliz por você ter aceito o meu convite, Sapabela. Faz tempo não vinha ao museu.
—Eu também estou feliz, Rospo. Recentemente, me pus a pensar no preço que pagam por telas clássicas...
—Curioso isso, Sapabela.
—O que tem de curioso? Quem tem dinheiro pode adornar a sua morada com coleções de arte...
—Isso não me parece simples, de imediato.
—Rospo, eu o conheço. Diga o que está pensando.
—A arte não tem preço.
—Concordo.
—Se a arte não tem preço, não pode ser comprada.
—Parece lógico.
—O que não pode ser comprado não pertence a ninguém. E não será mercadológico.
—Óbvio. E gosta de rimar a minha conversa.
—Então, ninguém pode ser dono da arte.
—O que é de ninguém é de todos.
—O mesmo se diz sobre a literatura e a poesia.
—E até uma cantiga de criança.
—Naturalmente.
—Se a arte é de todos, ela é do mundo. A Arte está em toda parte.
—A árvore é do mundo, e tudo que nele está, virou mercadoria. É a lei da sobrevivência.
—Correto. No caso da árvore, temos para com ela uma gratidão infinita.
—Temos?
—Filosoficamente sim. Mas ninguém se lembra da árvore quando risca um palito de fósforo ou se senta à mesa para jantar... Ou leva o chocalho ao bebê no berço...
—Entendo, mas qual é a questão, Rospo? Árvore é árvore, e Arte é Arte.
—Eis a grande diferença, o grande mistério.
—Diga mais.
—A árvore foi “civilizada”, ou seja, ela se tornou benéfica para o sapo e então, foi transformada em coisas que já não eram mais árvores, porém estava lá cumprindo o seu ritual de servir, de propiciar conforto... Separou-se, quer dizer, foi separada da comunhão.
—Tudo bem, mas assim como a árvore, também a arte nasce e vive para trazer felicidade ao sapo... Assim como a poesia, a literatura. São formas da felicidade.
—Mas em outro plano, Sapabela. No caso da Arte, ela não pode ser comprada.
—Tem certeza?
—Quando alguém compra um livro está comprando o objeto transportador das letras, o acondicionador...O livro se compra, mas a poesia não, a literatura não. Elas jamais pertencerão a alguém em particular. A literatura e a Poesia pertencem ao mundo...
—Entendi. Pelo menos penso que entendi.
—Como pode alguém comprar a poesia, se a mesma poesia eu a tenho em mim, compreendeu?
—Sim, isso só seria possível se não houvesse um só alguém que memorizasse um poema, que o preservasse em sua memória, que introjetasse o poema em si. Milhares de seres caminham nas calçadas do mundo levando consigo a poesia... Como vê, poesia e carro são diferentes. Se alguém compra um livro e o coloca na estante, e o livro servirá de adorno, esse alguém não tem a poesia em si, ele tem apenas o objeto, nem poderá se dizer livre, que é o chamado do livro.
—Do que fala, Rospo?
—O livro diz: Livro! Mas só pode de fato garantir a liberdade para a alma que o transportar em si. Quem compra e tem muitos livros mas não os abriu jamais, tem algo que não diz nada. Parece complicado, mas é. Porém, a complicação é apenas a opção do conforto, do não movimento da mente.
—Sei, e a Arte...
—Veja esse quadro. Que coisa bela!
—Ama a pintura clássica, não é, Rospo?
—Veja que o quadro está aí na parede, mas é só o objeto transportador, compreende? Uma reprodução desse quadro poderá estar no apartamento de alguém.
—Sim?
—Mas a arte, que se expressou na pintura, como o poderia ter feito na música. Isso, essa coisa, está além do quadro. Está nas mentes e nos corações. O que seria a Guérnica, de Picasso, por exemplo, se tivesse permanecido apenas numa tela?
—Claro, Ropo! Algo me veio num clarão! A Guernica de Picasso está em mim, na minha mente, na minha alma, no meu coração. Ela representará sempre para mim o horror diante da guerra. Mesmo que eu não venha ao museu, ou não vá ao Google, essa arte que se expressou numa tela, estará sempre em minha consciência, é tão simples!
—A simplicidade é a segunda opção, mas requer, clama para sim um esforço, um grande empreendimento do pensar, que é a dádiva mais emocionante na vida de um sapo.
—Rospo, isso se aplica em qualquer Arte.
—Claro, você pode comprar um Long Play de cantigas de crianças. Mas as cantigas estarão onde sempre estiveram, no coração das mães que as cantam e ensinam aos seus pequenos.
—As professoras, os pais...
—Isso mesmo, Sapabela! Quem disse que eu posso comprar “O Cravo Brigou com a Rosa”?
—Pode não, Rospo. E esse quadro, ou seja, a Arte que nele está emoldurada eu a levarei comigo, e falarei dela um dia para alguma Sapabelinha. Tenho até vontade de chorar.
—Mas não chore. Museu é local de felicidade, de alegria.
—Rospo, viva a Arte! E quero um riso alto de montanha encantada. Um riso que será uma gargalhada, que é também uma bonita forma de chorar de felicidade.
—A Arte vive, pois não se pertence mais a partir do momento em que nasceu.
—Já pensou se tivéssemos que pagar direitos autorais pelo que habita o meu pensamento, e o meu coração?
—Sapabela, que alegria estar num museu com uma amiga tão preciosa...
—Rospo, veja aquelas esculturas!
—Pois é, elas estão nas calçadas do mundo. Já não se pertencem mais. Tornaram-se expressões artísticas do mundo.
—Rospo, sei que sou elegante, mas fico sempre em dúvida: sou a Arte ou uma obra de arte?
—Você é arteira.


MV

sexta-feira, 6 de julho de 2012

SP: Um livro do qual gostei muito - Bicho homem



BICHO HOMEM


O primeiro livro do autor. As ilustrações, que capricho, que beleza!Criança viu, adorou. Não saberia eu destacar uma página, a das rãs, é tudo de bom. Os olhos param.
A página daquele galho com as folhinhas, é demais. A artista: Marcia Misawa. Quando menina, gostava de desenhar no chão e ver a chuva passar.

Quer conhecer as vozes dos bichos? É poesia pura, por demais poético. Poesia nos verdes, nas páginas ensolaradas, nas quais bichos arrulhavam, um grasnou, alguns gorjearam. Num encanto só.

Tem até bicho sibilando! Li de uma só vez, feito menino puro, repleto de vontade de desbravar esse mundo.

O que acontece de trágico para essas vidas indefesas, é apresentado aqui com extrema delicadeza poética. O forasteiro vem aí.

Leio diariamente pelo menos um livro infantil. Isso tornou-se um hábito e uma necessidade em minha vida. E faz tempo não lia um assim com tanta alegria, aquela alegria intensa e súbita que brota declarando-se felicidade. Esse vozerio todo, esse alarido, amplia muito mais do que o vocabulário da infância, amplia um sentir, um modo de ser e de se posicionar diante da triste agressão à natureza e aos seus fiéis habitantes.

Quando li “Bicho Homem” ganhei a minha alvorada.

Na última página, o autor diz que ama bichos, crianças, velhos e livros. Ama bichos? Nem precisava dizer!

Livro:BICHO HOMEM
Autor: NELSON ALBISSÚ
Ilustração: MARCIA MISAWA
Editora: CORTEZ
32 páginas

Comentários de Marciano Vasques

quinta-feira, 5 de julho de 2012

SP: Quintas (66)

O LÁPIS VERMELHO


Oal Aul Ial Lá estava eu, quem diria, com ele em minhas mãos. Entre tantas coisas tão importantes, como o pião, as bolinhas de gude de translúcidos verdes e azuis de pedrinhas iguais aqueles olhos.
Aquela menininha que segurava em minha mão na "O cravo brigou com a rosa", e agora, já homem sei porque os olhos já marejaram nessa cantiga mais de vez.
E eu, que já havia sido tudo: um palhaço de circo de quintal, o mocinho, o bandido, o índio, e corríamos e as palavras iam surgindo aos montes, em nossos corações, e então, porque se fizera assim tal menino, as palavras quando chegavam já iam direto para o coração.

E nos escondíamos atrás do anis, do poejo, já falei dessa miudeza toda.
Estou me arriscando escrever direto aqui pois está ameaçando chuva forte e até já andou trovejando, e se faltar a energia elétrica tenho receio de perder tudo, mas vou em frente. Então vou para o Blog, é mais seguro. É uma casa azul, não é? Com alguém que já está na janela.
Pois então eu ficava bobão mirando para ele, e falei das palavras, e elas vinham aos montes: romã, rã, mamona, mas naquele momento eu esquecia todas elas, porque não era um momento de palavras. E se pudesse laçar cada momento desses que passaram!, que não eram momentos de palavras. Como eu ficava com os olhos de nuvem diante da menina que eu queria namorar. Sardentinha, vestidinho, um anelzinho de vidro que ela exibia demais. Meu Deus! Mas eu estava lá, com ele, em minhas mãos. Hexagonal, um lápis tão grande, tão bonito, que lindo era! O meu primeiro lápis de cor, um lápis vermelho. Eu nem sabia como segurar um lápis assim daquela formosura e encanto.
De tudo que me encantava, começando pelos gibis e as manhãs nas trilhas dos eucaliptos, e ver sempre uma menina tão linda, que passava e nem sorria quando era perto do portão mas lá na ponta da rua ela se virava e acenava com um dos braços dando Tchau, e era de lua africana nos cabelos, era toda áfrica aquela menininha e nunca soube ao certo se era um truque de fada africana que a mandou só para embelezar mais aquela rua, e outras tantas coisas que encantavam, pois o que mais tinha era encantamento, era diferente, não tinha esse prazer de ficar dedilhando joguinhos, era uma coisa viva. Se o tempo era melhor? E eu sei lá! Isso tem que perguntar pro tempo. O que sei é que naquele dia, que era frio, e então, para ficar tudo mais bonito eu estava resfriado, pois não obedecia e isso agradeço muito quem fingia que eu obedecia e então lá estava no caule da goiabeira e varando ventos e capinzais zarpando no vento frio que era de tremer, e na chuviscada até que não tinha jeito e entrava em casa, naquela casa rica de folclore.
Mas quero falar dele. Ele, de madeira, a madeira da árvore, que nos acompanha vida toda, e até naquele dia, que agora é melhor afastar pensamento e falar dele, não só da formosura, que isso nem precisa dizer, pois todos sabem, ou deveriam saber que um lápis é a coisa mais bonita que tem na mão de um menino, inda mais um lápis vermelho todo geométrico. Quero é falar da felicidade, essa coisa que sempre surge e adulto nem sabe direito o que é, e ela é feita de momentos, de riscos, de traços, tudo coisa passageira, mas vale tanto, meu bem...
E ele estava lá, em minhas mãos, e eu apertava forte para que ele não escapasse. Que lápis maravilhoso! Como me arrependo por não ter guardado nem um pedacinho dele. Já pensou?
E foi assim. Nada importou mais naquele dia. Nem a nuvem de tanajuras, nem os gansos fazendo escarcéu nas ruas, nem os alaridos das crianças, nem sequer as histórias com rabanadas ou bolo de fubá. Nada, só ele. Lindo, dono de minha alma. Ah, se essa alma tivesse sido desenhada e eu colorisse com ele!
Mas acho que fiz isso, sem saber, afinal menino é uma estrutura maravilhosa. E como me lembrava que eu o beijava naquele dia de tão feliz que estava, lápis vermelho, hoje, um beijo. Faz bonito com as outras crianças,

MV

quarta-feira, 4 de julho de 2012

SP: Um livro do qual gostei muito - O monstrinho medonhento

O monstrinho medonhento

Olá, pessoal!

"O monstrinho medonhento" obra do grande ator, autor e compositor Mário Lago é uma história interessante, um pouco alegre, um pouco triste. Surpreendente.
Creio que não será muito fácil encontrá-la nas grandes livrarias, pois foi publicado pela editora Moderna em 1984, tendo alcançado mais de 20 reedições. Recomendo que procurem num sebo, onde, sabendo-se escolher, pode-se encontrar bons livros. Meus filhos leram esse livro para trabalhos escolares e lembro-me que gostaram muito.

Quando os habitantes da Cidade dos Homens souberam que um monstro iria nascer, ficaram assustados e muitos deixaram a cidade. Medonhento nasceu no Palácio dos Horrores, herdeiro do senhor Monstro Terrível e de dona Monstra Perigosa. Para esperar pelo momento do nascimento, vieram monstros, feiticeiros, bruxas e todo tipo de criaturas pavorosas. Todos, muito ansiosos para ouvir o primeiro urro de Medonhento. A imprensa e a televisão lá estavam, é claro, para noticiar tão impressionante evento.
No exato momento do nascimento, o mensageiro do palácio gritou:
- Parem com essa barulheira! Está nascendo!
Quando Medonhento acabou de nascer, a multidão rodeou seu berço que era uma panela feita de esqueletos e todos ficaram aguardando o tal urro medonho. O urro que iria rachar o mundo no meio. O monstrinho abriu a boca e...sorriu ao dizer:
- Com licença...
Disse isso, com voz de anjo, o que é muito pior, em se tratando de um monstro.

Numa entrevista, o autor explicou que a história surgiu de uma pergunta feita por sua esposa, durante uma conversa a respeito dos dias atuais:
- Será que os filhos dos monstros não acham desagradável a profissão dos pais?
Convido o leitor a responder essa pergunta e descobrir outras respostas, lendo este livro muito, muito interessante.

Um beijo,
Regina Sormani

terça-feira, 3 de julho de 2012

PR: Livros Renascem!



Livros renascem. Ao terminar o ciclo deles numa editora, mudam de casa e aparecem de cara nova em outra. O autor, muitas vezes aproveita para dar uma pincelada nova no texto. O ilustrador geralmente muda também. 

Glória Kirinus da AEILIJ-PR, apresenta seu livro muito amado pelos leitores, que ganhou cara e casa nova. 

Acaba de chegar da editora Melhoramentos: Tartalira!!! 

Que esta tartaruga lírica renove o carinho dos leitores e que corra mil e uma aventuras, sem atalhos, pelo caminho longo... para parando para temperar o tempo/ para parando para contemplar a vida...


Postado há 3rd July 2012 por Marilza Conceição
Localização: Curitiba - PR, Brasil

domingo, 1 de julho de 2012

SP: Página do Rospo (7)



DIÁLOGOS ANCESTRAIS


—Rospo, precisa ser um pouco vaidoso.
—A vaidade deixo com exclusividade para você, Sapabela. Uma sapa vaidosa é tudo de bom.
—Hoje, Rospo, o sapo também se preocupa com a aparência. Ele também se cuida.
—?
—Se ficou mudo é sinal de que vai pensar. Promete? Vai?

—Sapabela, certa vez um professor de Metafísica comentou em tom debochado: "Os gregos tinham deuses para tudo".
—Promete que vai pensar, Rospo?
—Eu fiquei anos pensando na fala daquele professor...
—E então?
—Então esperei o dia em que eu viesse a compreender essa questão.
—Com o professor?
—Não! Com os gregos.
—E chegou a alguma conclusão?
—Fiquei emocionado ao saber que a imaginação ocupou de forma tão profunda e criativa o espaço  do conhecimento científico que eles não tinham.
—Isso é fascinante. Emocionante. Maravilhoso!
—Verdade. Na ausência  do conhecimento científico a imaginação exerceu o seu poder numa expansão jamais vista nos tempos que viriam. Terremotos, vulcões, ondas, vagalhões no mar, noite, tempestades...Tudo isso deu origem à monstros, criaturas terríveis, e também deuses, titãs, deusas...
—É de fato encantador, a incompreensão dos fenômenos da natureza engendrou um universo de deuses e criaturas jamais vistas em qualquer outro tempo
—E tem mais.
—É?
—Os mitos são tesouros da mente humana, atravessando milênios.
—Por que diz isso, Rospo?
—O mito se refere ao seu interior, à sua mente, ele estará dentro de você...Se você tiver o dom de ouvir.
—Ouvir virou dom?
—Em nossos dias sim.
—Então, o mito diz sobre nós, ele fala ao nosso interior, ao ser de cada um, ele  tem mensagens para a alma de cada um.
—Isso, Sapabela. São mensagens entesouradas em nós. Cada um deve procurar a sua conversa com o mito...E permitir que ele entre dentro de si, o lugar sagrado...
—Sagrado?
—Sim, dentro de cada um colidem universos, mundos... Reinos...
—Reinos?
—Exato. Dentro de cada um está o céu, e todos os mundos... E o reino Daquele que é. E muitos já sabem: Ele é em você.
—Rospo, tem sapo que já escreveu isso.
—A palavra, Sapabela, está numa corrente universal infinita e pertence à todos. Quando ela sai do papel e penetra no interior de alguém, esse alguém torna-se portador da palavra. E se alguém escreveu algo sobre os mitos nos tempos dos tempos, esse alguém nos herdou, nos devolveu a necessidade de ouvir, ou ler. Por isso, como eu já disse, procure salientar a sua conversa com o mito. E não se esqueça, tudo isso está num plano superior. Basta simplesmente ser portador da coisa mais difícil.
—O que vem a ser essa coisa mais difícil?
—O "Querer".
—Coisa mais simples.
—Vai pensando, vai pensando...
—Rospo, ouvir uma narrativa mítica é ouvir. Não conversar.
—Ouvir verdadeiramente é uma forma de conversa. E quando você se inclina para o chamamento do mito, você já está em pleno diálogo dentro de si. Ouvir nesse caso é uma ação dialógica.
—Eu sempre leio.
—É o passeio ancestral dos olhos.
—Rospo, que bom me dizer essas coisas, mas, fale: vai pensar no que eu falei sobre o sapo também ser vaidoso? Lembre-se: a boa vaidade melhora o mundo.
—Sapabela, você não desiste?
—Por acaso já procurou o significado do meu nome?
—Não. Qual é?
—Sapabela significa "Aquela que não desiste".
—Impressionante!

MV

SP: Vice-Versa de julho de 2012

Queridos amigos!

Em julho, as escritoras Laura Bergallo e Stella Maris Rezende da AEILIJ RJ, fazem um belo Vice-Versa.
Parabéns e obrigada pela participação.
Um beijo,
Regina Sormani

Laura Bergallo

Stella Maris Rezende (foto de Ana Lasevicius)


Perguntas de Stella Maris Rezende para Laura Bergallo

1. Escrever para jovens e não ter o claro objetivo de ensinar, dar lições de moral, facilitar o entendimento, escrever sobre coisas que se acredita serem do interesse deles, ou seja, tudo o que distancia o texto da verdadeira Literatura, que é transgressão, rompimento com a expectativa, trabalho árduo com a linguagem, não fazer concessões, lidar com metáforas e elipses, com entrelinhas ou silêncios carregados de diferentes significados, tudo isso é um grande desafio para nós. O que pensa sobre essa imensa dificuldade em fazer Literatura e ao mesmo tempo encantar e seduzir o leitor jovem?

R - Acho que o maior de todos os desafios não é exatamente fazer Literatura e ao mesmo tempo encantar o jovem leitor. Esse é, sem dúvida, um grande desafio, ainda mais nos nossos tempos de tantos “brinquedinhos” tecnológicos de assimilação bem mais “fácil” e mais passiva, e de marketing muito mais poderoso. Mas, com relação a escrever literatura juvenil sem o claro objetivo de ensinar ou dar lições de moral, na minha opinião o maior desafio, mesmo, é ser capaz de romper as amarras do “politicamente correto” e ter a coragem e a ousadia de desafiar padrões estabelecidos pelos editores, por setores importantes da crítica especializada e por muitos daqueles que, em última análise, fazem a seleção dos livros que os jovens vão ler (uma vez que, infelizmente, no Brasil, a literatura para jovens só é maciçamente consumida através da escola, pública ou privada). Esse é um desafio realmente complicado, já que quem vai “consumir” o livro não foi quem o escolheu; são dois públicos distintos, em alguns aspectos até mesmo opostos. Encaixo aqui um pequeno texto do escritor Mario Vargas Llosa, que expressa exatamente o que sinto a esse respeito: “A literatura não é edificante, ela não mostra a vida como ela deveria ser. Ela antes, mais amiúde, ilumina em suas expressões mais audaciosas, com suas imagens, fantasias e símbolos, aspectos que, por uma questão de tato, bom, gosto, higiene moral ou saúde histórica, tratamos de escamotear da vida que levamos”. Como conciliar essa postura com as “necessidades” de um mercado (de literatura infanto-juvenil) que precisa “prosperar”? Pergunta dificílima de ser respondida...

2. Quais são os seus autores preferidos, entre estrangeiros e brasileiros? Se quiser, diga o motivo da preferência.

R - Desde que me alfabetizei li de tudo um pouco. Sempre tive uma imensa curiosidade de conhecer todos os tipos e estilos literários, de todas as épocas e lugares, sem preconceitos de nenhuma espécie. Ler, para mim, sempre foi uma viagem, um inigualável prazer. Assim, entre os clássicos brasileiros, posso citar meu preferido (que é um lugar- comum, sei bem): Machado de Assis. Entre todos os seus livros, dois me chamam especial atenção: “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Esaú e Jacó” – duas obras tão diferentes entre si que não saberia responder o porquê dessa minha preferência. Também gosto demais dos escritores latino-americanos, com destaque especial para Gabriel Garcia Marquez e Mario Vargas Llosa. “O Amor nos Tempos do Cólera” (entre outros igualmente maravilhosos), do primeiro, é um dos mais emocionantes livros que já li, e se liga muito estreitamente a um período de minha vida do qual sinto imensa saudade. Do segundo, amo em particular “Pantaleón e as Visitadoras”, “A Casa Verde” e “Tia Julia e o Escrevinhador”. Finalmente, não poderia esquecer a autora de livros tão emocionantes quanto “A Casa dos Espíritos”, “De Amor e de Sombra”, “Eva Luna” e “Paula”: Isabel Allende, em sua primeira fase (não gosto tanto de suas obras mais recentes). Quanto aos escritores de países mais longínquos que me vêm agora à memória, poderia citar Émile Zola, Eça de Queiroz, Kafka, Milan Kundera, José Saramago, Lewis Carroll e muitos outros por quem me apaixonei. Lista eclética, não é mesmo? E, como eu disse antes, totalmente sem preconceitos...

3. O que pensa dos best-sellers? Vendem muito bem, mas em geral não recebe prêmios literários, não são considerados Literatura. Existiria um modo de um livro se tornar best-seller e ser de alta qualidade literária? Poderia citar alguns exemplos?

R - Também não tenho nenhum preconceito contra best-sellers, a priori – isso seria uma redundância? Já li alguns de que gostei bastante, e muitos outros que detestei, me perguntando como é possível alguém gostar de tamanha porcaria. Como não especialista (sou amadora) na área de Literatura (tenho formação em Comunicação Social, sou apenas uma jornalista que escreve livros), posso somente falar de gosto, de opinião; não me sinto à vontade para fazer julgamentos técnicos. Entretanto, acho precipitado colocarmos todos os best-sellers no mesmo saco – o que cai na preferência do público nem sempre é bom, mas não é necessariamente ruim.
Um exemplo de best-seller que achei incrivelmente ruim: “A Cabana”, de William P. Young (chega a ser inacreditável que alguém tenha publicado uma “coisa” dessas). Dois exemplos de best-sellers de que gostei muito: toda a série Harry Potter e “O Filho Eterno”, de Cristóvão Tezza.

4. Amo seu livro “Jogo da Memória”, tanto o texto quanto o projeto gráfico. Ele foi finalista do Prêmio Brasília de Literatura agora em 2012, quando fiz parte da Comissão Julgadora. Pode me dizer qual é o seu livro preferido (de sua autoria) e o porquê?

R - Em primeiro lugar, gostaria de expressar minha surpresa: realmente não sabia que “Jogo da Memória” foi finalista do Prêmio Brasília de Literatura. Legal saber... Quanto à pergunta, ô perguntinha difícil de ser respondida! É mais ou menos como se alguém perguntasse de qual dos meus filhos eu gosto mais... Posso tentar escapar pela tangente, dizendo que recentemente tive uma experiência com a escrita que me trouxe muito prazer: escrever contos. E de terror. Com tecnologia no meio. Trata-se de meu mais recente livro, “Cibermistérios e Outros Horrores” (Rocco Jovens Leitores, 2011). Foi realmente muito divertido escrever esse livro. E com ele descobri que escrever contos é mais light. É que, quando estou escrevendo uma novela, fico o tempo todo envolvida, “tomada”, quase “mediunizada”. As ideias vêm com tanta força e tanta teimosia que não me deixam nem dormir. Um turbilhão interminável. E isso (embora seja muito bom!) cansa, sabe? Já quando escrevo um livro de contos posso fazer uns intervalos, entre um conto e outro, para relaxar da “tensão criativa”. O que me deixa mais zen... e eu adoro ficar zen!

Rio de Janeiro, 27/6/2012.


Perguntas  de Laura Bergallo para  Stella Maris Rezende 

1. Você é uma campeã em premiações e menções honrosas, tendo inclusive um livro (Último Dia de Brincar, de 1987) entre os Melhores Livros de Literatura Infantil do Século XX. Mas é também professora, cantora, atriz, artista plástica e dramaturga – é uma artista completa. Como faz para conciliar tantos talentos, e ainda ter essa produção literária tão vasta e tão amplamente aplaudida pela crítica?

R - Desde menina, sempre gostei de teatro, de ler, escrever, cantar, desenhar, pintar, dar aulas, contar histórias, encantar as pessoas com palavras e silêncios misteriosos. Já participei de festivais de música, compondo e cantando. Já fiz televisão, quando interpretei a Fada Estrelazul do Programa Carrossel na TV Brasília/Manchete, e a Tia Stella na TV Capital/Record, no final da década de 1970 e no início da de 1980. Ganhei prêmios como pintora e fiquei muito conhecida em Brasília, onde morei por mais de 30 anos, principalmente devido ao sucesso da Fada Estrelazul e dos vários prêmios literários em nível nacional. Penso que sou muito organizada, metódica, o que me faz ter tempo para fazer coisas diferentes e ao mesmo tempo interligadas pelo objetivo único de encantar e emocionar as pessoas. No início, era mais complicado, porque eu lecionava o dia inteiro e à noite, para pagar as despesas. Escrevia, lia, desenhava, atuava na televisão e no teatro, cuidava dos filhos e da casa. Quando me aposentei como professora, tudo se tornou mais fácil, principalmente agora, que meus filhos são independentes e eu moro sozinha em Botafogo, de frente para a enseada e o Morro da Urca. Deixei de lado as artes plásticas, mas sinto que elas continuam no meu trabalho, ao descrever o cenário de um romance ou a figura de uma personagem. Nas escolas, ao conversar sobre meus livros, a atriz reaparece, quando leio um trecho ou um capítulo. Canto um pedacinho de música que faça parte do texto e isso me traz de volta a cantora que sou e que não pôde seguir carreira, porque a Literatura sempre foi a minha maior paixão, o meu maior sonho, a minha vocação mais verdadeira e mais exigente.

2. Nascida em Minas Gerais, você viveu algum tempo em Brasília e hoje mora no Rio de Janeiro. De que forma essa vida de certo modo “itinerante” influencia (ou influenciou) sua obra e seus múltiplos talentos? Para escrever bem é preciso viver bem?

R - Como sou mineira de Dores do Indaiá, perto da Serra da Saudade, e a mineiridade é impregnada de inquietude, um tresmodo de ouvir e falar na hora certa, com a palavra que surpreenda pelo humor, siligristida de sonoridades, ardilosa e tranchã, e por me chamar Stella Maris que significa estrela-do-mar, sempre me senti atraída pelo mar. Quando estive no Rio pela primeira vez, aos quinze anos, disse para mim mesma: eu quero morar nesta cidade. O sonho demorou a ser realizado, mas como diz a protagonista do meu romance “A mocinha do Mercado Central”, Globo Livros, “sonhar é uma boa prática”. No final de 2006 comecei a me organizar para mudar para esta cidade que amo cada vez mais, embora a mineiridade permaneça em mim e seja a matéria-prima do meu trabalho de escritora. Gosto muito de viajar, conhecer outros lugares e outros costumes, tudo isso enriquece o meu olhar sobre a condição humana. Para escrever bem é preciso viver bem, mas viver bem não é só viajar e conhecer outras pessoas e outros lugares. Machado de Assis é o nosso maior escritor e pelo que sei quase não viajava, nunca saiu do Brasil. “Viver bem” é principalmente observar e ouvir muito, ler e reler livros, prestar atenção em tudo, em cada detalhe, porque qualquer coisa tem algo a nos dizer, mesmo que seja uma simples xícara com a asa quebrada.

3. Você desenvolve a oficina Letras Mágicas, com a qual viaja pelo Brasil e por outros países de língua portuguesa a convite de escolas, universidades, bibliotecas, centros culturais, congressos e feiras do livro. Nessas andanças, como tem sentido a receptividade do público, especialmente o infanto-juvenil, à leitura e às atividades literárias? Você acha que as novas tecnologias estão diminuindo (ou podem vir a diminuir) o interesse e o tempo disponível para os livros? O que sugere a esse respeito?

R - A oficina Letras Mágicas tem tido uma receptividade maravilhosa, porque trabalho com simplicidade e provoco nos participantes o encantamento pela palavra e pelo silêncio, a entrelinha, a pausa, o que não foi dito claramente, o que foi apenas sugerido. Penso que o ser humano nasceu para a sofisticação, para o mais bonito e o mais bem-feito. Só precisa ter acesso a boas oportunidades de fruição estética. As novas tecnologias podem conviver muito bem com o texto literário, com o livro em papel ou em tablet, não importa. É claro que o livro em papel ainda vai encantar por muito tempo, é um prazer especial e mais poético. Meu filho mais velho, que adora
cinema, praticamente só lê Literatura e Filosofia em tablets, mas isso não diminui o valor artístico da obra que ele lê. Em resumo, haverá um dia em que o suporte não será o mais importante e sim a permanência da busca pela beleza da arte. A Literatura fala por silêncios e cala por palavras. Enquanto isso existir, existirá boa qualidade literária, e haverá leitores apaixonados por essa magia delirante da linguagem. Todas as artes são importantes, mas creio que só o texto literário toca mais profundamente a alma humana, permeia a perplexidade da existência, estimula a imaginação, o sonho, a criatividade, a vontade de reinventar o mundo. Lutar por um Brasil Literário, que era o maior sonho do nosso querido e inesquecível Bartolomeu Campos de Queiros, pode ser o modo de os livros continuarem a encantar as futuras gerações. Uma das maneiras de se lutar por um Brasil Literário é o escritor não abrir mão da boa qualidade literária e ter garra e coragem de falar sobre a importância dessa arte, ainda que use outras mídias, não importa, porque ao se tornar leitor de um texto literário, a criança, o jovem ou o adulto refinou o gosto, aprendeu a exigir mais, está mais rico em perguntas, questionamentos, sonhos e imaginação.

4. Finalmente, gostaria de conhecer um pouco de seus planos para o futuro. Quais são seus próximos projetos, entre livros, vídeos e outras obras?

R - Fiz o roteiro para um curta-metragem de um dos meus livros e é bem provável que eu atue como atriz. Além disso, ainda tenho o sonho de gravar um CD com uma velha letra composta por mim e musicada por Didi Moreno e outras letras com as melodias compostas pelo meu filho mais novo, Renato de Rezende. Estou trabalhando em novos romances e contos. Lancei 2 livros em 2011, outros 2 em 2012 e possivelmente lançarei mais 2 em 2013. Mas são textos com que venho trabalhando há vários anos. Nenhum livro meu demorou menos que 1 ano para ser escrito. Meu processo de escrita é longo e demorado, e como escrevo dois ou três textos ao mesmo tempo, de vez em quando lanço 2 ou até 4 num ano só, como aconteceu em 1988, ao ganhar o Prêmio Bienal Nestlé. Quero continuar gravando vídeos para o Youtube, falando primeiramente de cada livro meu, do meu fã-clube (jovens de Nova Iguaçu que conheci no Salão do Livro da FNLIJ em 2009 e se tornaram meus fãs, me acompanham em todos os lançamentos e me ajudam na divulgação da minha obra), dos meus tempos de Fada Estrelazul e Tia Stella. Depois, quero falar de livros de outros autores que admiro, entrevistá-los, trocar ideias, continuar lutando por um Brasil Literário. O importante é dar asas à atriz que nunca deixei de ser. A atriz que ama a Literatura, as metáforas, as elipses, segredos e revelações da misteriosa condição humana.