domingo, 4 de março de 2012

SP: Mensagem - Ave Maria

AVE MARIA

Sentei-me numa ponta 
para o arco-íris não ir embora


O meu sonho sempre foi ser freira ,chamar-me Maria. Mas, nasci com asas, sem ser anjo. Posso me aproximar de Deus, de outra forma. Consigo subir até Sua casa. Antes de a noite acordar, pela manhã, as irmãs libertam a respiração do convento pelas janelas: tum-tum, tum-tum! Escuto o coração do convento pulsando em reza. Ah! Se não fosse ave, seria freira! Como é encantador ouvir os passos delas, flutuando pelo piso frio do convento como se voassem sem abrir as asas. Logo, começam as xícaras de café a tocar piano e eu sinto o aroma do café.
O convento é um grande ninho onde moram anjos em forma humana. Gosto de sobrevoar os telhados e sentir o calor que erradia das suas janelas. O próprio sol visita as suas dependências e depois se esparrama pelos seus pátios e frestas. Fico tão emocionada que arrulho de encantamento.
Às vezes, sinto saudades do cheiro verde das matas e voo até lá. Como é extasiante sentir odores tão diferentes! A maresia que salga as narinas...o café  quente do convento. Os perfumes do banho dos humanos que andam de um lado para outro, como formigas trabalhadeiras.
Sou mesmo uma ave privilegiada, testemunho a história desse povo, todos os dias. De um lado, as doces beatas, do outro, o mar salgado, de bolhas molhadas. O vento traz folhas da mata que acariciam rostos humanos.O chafariz respinga lágrimas de felicidade nesse solo abençoado.
Outro dia, muitas nuvens se aproximaram do convento. Extasiada, deitei-me sobre o telhado e permiti que as as águas doces da chuva me banhassem de todas as minhas decepções. Eu aceitei quem eu era. Como havia seres humanos e animais, havia eu: ave. Tantos similares e tantos diferentes, convivendo com as árvores e mares, chuvas e risadas. Únicos e realizados. Filhos da natureza. Pais de nossos sonhos.
Eu sempre quis se freira. Mas, nasci ave. Acho que a vida foi muito generosa comigo. Não sou uma pomba qualquer. Sou uma ave brasileira, alegre como uma cigana, viajando entre o mar, a mata e a cidade, num tapete mágico movido a vento.
Sou uma ave maravilhada.
Sou uma ave desta terra santa.

Simone Pedersen

Simone é escritora associada da regional paulista da AEILIJ


2 comentários:

Fadas de Luz5 de março de 2012 08:48
Que lindo. Fiquei emocionada ao ler.

JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê15 de março de 2012 10:44
Lindo! obrigadim, Bjks do JP

Nenhum comentário:

Postar um comentário