segunda-feira, 2 de maio de 2011

SP: Vice-Versa de maio 2011

Olá pessoal!
O Vice-Versa de maio apresenta os ilustradores Daniel Bueno(SIB e AEILIJ) e Gilberto Marchi.(SIB) Obrigado, meninos. Parabéns pelo belo trabalho.
Um grande abraço,
Regina Sormani


Daniel Bueno

Gilberto Marchi


Perguntas de Daniel Bueno para Gilberto Marchi

1) Marchi, como foi seu começo de carreira? Como era o mercado de ilustração? 

Comecei minha carreira como pintor de quadros para a Galeria de Arte André em 1964. Nessa época eu era aluno do Lubra, (o nome dele era José Roncoletto), e certo dia apareceu um dos vendedores do André, para retirar uns quadros e perguntou se havia algum bom aluno. Fui indicado e assim comecei a vender minhas telas. Lecionei durante 7 anos na EPA- Escola Panamericana de Arte a convite de Mario Tabarin. Comecei a trabalhar com ilustração por indicação de Manoel Victor Filho e posteriormente iniciei com a revista Realidade, ilustrando o tema da Revolução dos Cravos em Portugal. Nessa época o mercado ( anos 70 e 80), era ótimo. Choviam trabalhos e o preço era bom.

2) Admiro o domínio técnico que você apresenta em seus trabalhos. Você diz ter uma preferência pela aquarela. Fale um pouco sobre a escolha de cada uma. E o que acha da ilustração digital?

Minha formação é de pintor. Aprendi que seria bom aprender a composição dos materiais que iria utilizar nos meus trabalhos. Acho bom saber o que acontecerá com as artes após muitos anos, se permanecerão ou se começarão a craquelar. Me interessei em estudar como preparar as telas, fazer minhas tintas a óleo e trabalhar com tempera a ovo, (uma técnica bem antiga). Enfim, gosto de experimentar tudo e aprender a arte dos antigos mestres. Quanto à aquarela, adoro pela transparência e também pelos efeitos que os suportes( papéis diferentes) apresentam. Saber aproveitar as manchas que surgem ao acaso, mas que podem ser controladas com efeitos maravilhosos, é um dos desafios dessa técnica. É bem diferente do óleo, onde podemos controlar tudo. Gosto também muito do acrílico e do lápis de cor. Recentemente, andei fazendo várias artes com lápis Supracolor, mas não utilizando como aquarela. Misturei carvão com Supracolor, Conté com aquarela, etc.
Uso bastante a ilustração digital. Trabalho com Painter, Photoshop e Illustrator. Com Painter, trabalhei nos retratos de Ariano Suassuna, Villa Lobos e outros. Fiz também muitas embalagens, entre elas as artes para sorvetes Lafrutta. Só sou contra o uso abusivo de filtros.

3) Fiquei curioso pra saber um pouco mais sobre seus mestres: Lubra, Ettore e Amadeo Scavone. Conte um pouco sobre suas referências, os ilustradores que mais admira.

Lubra( José Roncoletto) era um bom pintor de paisagens e foi meu 1º professor. Ettore Federighi, um pintor autodidata, mas de grande talento, que se especializou em pintar naturezas-mortas. Amadeu Scavone, um grande mestre, com quem mais aprendi. Ele teve alguns alunos de grande projeção, tais como: Aldo Bonadei, Edgard Ohelmeyer e Bruno Felisberti. Minhas referências são desde grandes mestres do passado a artistas mais recentes como: no Brasil- Almeida Júnior, Marques Campão e Portinari. Na Europa, entre outros: Franz Hals, Vermeer, Rembrandt, Chardin, Cabanel, Malhoa e ilustradores como De Gasperi, Mattania, etc. Quanto aos ilustradores que mais admiro, são muitos e acho difícil enumerar todos, mas você está entre eles.. 

4) Muito bonito o retrato do escritor Francisco Marins. Gostaria que você – que trabalha para diversas áreas do mercado - falasse um pouco sobre sua experiência com ilustração de livros.

Obrigado. O escritor Francisco Marins faz parte de minha adolescência. Lia com muito entusiasmo os seus livros. Foi muito gratificante após tanto tempo, eu vir a fazer o retrato dele. Deverei também fazer uma escultura de seu busto em madeira.
Trabalhei e ainda trabalho em áreas bem diversas do mercado. Já fiz um pouco de tudo. Ilustrei para a maior parte das revistas da Abril, como: Nova, TVGuia, Veja, Homem Playboy, Quatro Rodas, etc. Ilustrei também vários livros didáticos para o IBEP, inclusive uma coleção de livros de português como co-autor. Na área infantil, ilustrei quase todos os livros de minha esposa, Regina Sormani, publicados pelas editoras Paulinas, Paulus, Loyola, Pioneira e Cortez . 
Sinto que a área infantil e infanto-juvenil está se recuperando, apresentando ilustradores muito bons, entre eles, você. Isso é alentador, pois o mercado publicitário caiu muito em quantidade e qualidade. Os quadrinhos, também são uma opção para os bons ilustradores realizarem trabalhos de qualidade para o público juvenil e adulto. Essa é também uma área na qual pretendo atuar, aliás, criamos Regina e eu, o personagem Pecezinho, que tem feito muito sucesso.

Para que quiser ver meus trabalhos:
http://gilbertomarchi.blogspot.com

Caro Daniel,
Acho muito criativos os seus trabalhos e muito boas as suas perguntas. 
Um grande abraço,
Gilberto Marchi


Perguntas de Gilberto Marchi para Daniel Bueno

1) Daniel, acho muito bom o seu trabalho como ilustrador. Você tem um trabalho muito diferenciado. Adorei as ilustrações para o livro “Apolinário, o Homem-dicionário”. Gostaria que falasse um pouco sobre esse trabalho.

Obrigado, Marchi! E que bom que gostou das ilustrações do Apolinário. Esse é o meu livro mais recente. Procurei explorar um dos aspectos mais interessantes do texto do Fabio Yabu: o universo de livros, letras e palavras. As ilustrações mostram os personagens representados como “livros abertos”, com cenários cheios de palavras em seu interior. Em outras ocasiões exploro apenas os elementos tipográficos em situações diversas e simbólicas. Há, portanto, palavras que por vezes habitam o espaço exterior e em outras situações um universo interior, expressando sentimentos e a condição do personagem. Em alguns casos esses dois mundos se fundem, se tornam um só. O próprio livro, enquanto objeto, pode ser entendido como um personagem. Cuidei do design gráfico junto com a Carol Grespan, e nossa intenção foi a de fazer algo denso e coeso, cheio de ilustrações, com todas as páginas ocupadas por texturas e elementos dos velhos dicionários.

2) Fale um pouco como você cria. Você faz um esboço a lápis inicial, ou começa já trabalhando com recortes e fazendo montagens? Suas colagens e texturas são todas montadas no Photoshop?

Sempre faço esboços a lápis antes de partir para as colagens. Elas, na verdade, dependem desses desenhos, que definem precisamente os contornos de todos os elementos. Tradicionalmente as colagens passam por um processo manual. Depois continuo o trabalho no Photoshop. Desenho os contornos de todas as figuras a lápis, em papel sulfite, e transponho-os para papel duro. Aplico sobre essas figuras as técnicas de colagem, gerando elementos soltos, como “bonequinhos de papel”. Scaneio as peças separadamente e resolvo no Photoshop a composição,contrastes, claro/escuro, cores. Quando o prazo é curto, pulo o processo manual e resolvo a finalização utilizando o material que tenho à mão, uma espécie de “banco de imagens digitais” feito a partir das ilustrações que foram se acumulando. Atualmente venho variando cada vez mais as abordagens e técnica. Dependendo do trabalho, posso apresentar um desenho a lápis ou algo vetorial.

3) A ilustração no seu site “A janela da esquina do meu primo” é muito bela. Foi premiada em Bolonha . Li no comentário sobre ela como uma homenagem explícita a Max Ernst, mas acho que também me remete a Peter Brueguel, com uma visão moderna. Você concorda?

Muito bem observado, Marchi, concordo! O texto do júri da Feira de Bolonha é bonito, e gostei da comparação, mas na verdade não pensei claramente no Max Ernst ao criar as ilustrações. De qualquer modo, sabemos que muito do que empregamos vem do acúmulo de experiências e, pode ser que, mesmo sem ter consciência, usei algo do que aprendi com os trabalhos desse grande artista. Na verdade tenhocomo referência toda a vanguarda moderna do começo do século passado, e são muitos os artistas – como os dadaístas, por exemplo – que recorrem à colagem. Agora, só de curiosidade: tenho um quadro do Max Ernst bem aqui ao meu lado, junto à mesa de trabalho. Bem, sobre o Bruegel posso dizer que pensei nele claramente, pois eletem relação com o trabalho e o texto de E.T.A. Hoffman. Pesquisei suaobra e sei que Hoffmann – que também desenhava – admirava o gênero do “grotesco” nas artes plásticas (que chega a ser esquematizado em duas categorias: o “grotesco fanstástico” de Bosch e Bruegel, e o“grotesco-cômico” de Hogarth, Callot, Goya). Hoffmann admirava especialmente os gravuristas Hogarth, Daniel Chodowiecki e JascquesCallot. O texto da “Janela” anuncia uma caminhada em direção realismo, e a descrição – com doses de humor negro e observação dos costumes– de inúmeros personagens em um mercado vistos de uma janela, sugere uma construção de cena como as de Bruegel. Na história há um movimento de distanciamento e aproximação do que é observado que me levou a resolver as ilustrações em um único e grande desenho do mercado, que traz todas as situações do texto. Em alguns momentos temos uma visão à distância, e em outros “recortes” dessa imagem, com ênfase nos detalhes. O processo de criação envolveu pesquisa de costumes, arquitetura e vestuário da Berlin de 1822. Para tanto recorri à biblioteca do Instituo Goethe. A colagem foi totalmente digital, misturando os elementos pesquisados com fotos de revistas antigas.

4) Agora, falando sobre o mercado de trabalho. Você está contente como está, ou tem alguma queixa. Não tem tido problemas com os direitos autorais? Bote a boca no trombone! Obrigado e um abraço.

Marchi, sabemos que não é difícil nos deparamos com contratos abusivos no meio editorial de revistas. Só pego trabalhos com contratos adequadamente negociados, mas é cansativo lutar diariamente por eles. A saída é fazer como você, trabalhar para diversas áreas. Com os livros tem sido diferente. Não posso reclamar, de modo geral, dos contratos que fiz com as editoras. Alguns servem até de referência. Sei das limitações do meio, da realidade de vendas baixas no mercado brasileiro, mas tenho mesmo assim negociado bem os trabalhos. E é raro não conseguir alguma porcentagem de direito autoral. Poderiam ser maiores, claro. Mas pela experiência que tive no ano passado, vejo essa área com grande otimismo. E tenho até a vontade de começar a criar toda a concepção do livro, integrando projeto gráfico – algo que já comecei a fazer – com as ilustrações e o texto. Enfim, tenho um especial interesse por livros, por adorar o formato e o suporte, e as diversas possibilidades de experimentação.


Um comentário:

Danilo4 de maio de 2011 05:46
Parabéns ao Marchi e ao Daniel pelas experiências, histórias e lições!!!

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