quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

SP: Quem conta um conto... - Mariluiza Campos

Ai! Que medo!

A casa tinha uma espécie de porão, ao qual se chegava por uma portinhola situada logo acima do piso acimentado onde a residência se erguia. Como esta portinha não tinha mais do que sessenta centímetros de altura, nenhum adulto se atreveria a tentar passar por ela. Já as crianças... não só foram explorar o tipo de porão, como também oelegeram “Clube da Cambada”. Era lá que se faziam as reuniões da turma quando o assunto era “Proibido para maiores”.

Havia regras restritas para o uso do clube: nada de estranhos, nada de adultos; só se podia entrar quando não houvesse olheiros por perto; a porta tinha que ser mantida fechada, só sendo aberta exclusivamente para permitir a entrada ou a saída dos sócios.

- Mas como seria possível respirar lá dentro?

Na fachada da casa, à altura do chão, havia uma grade de 30 por 40 centímetros, que permitia uma entrada parcimoniosa de ar...Por isto, dependendo do número de presentes, as reuniões só podiam durar, no máximo, de vinte a trinta minutos, a menos que se deixasse a portinha entreaberta, o que já se sabe que era proibido... (repararam no “exclusivamente” do segundo parágrafo?).

Conseguiram levar para o Clube um caixote que servia de mesa, meia dúzia de tijolos que viraram assentos, uma vela, uma caixa de fósforos e dois pares de semáforas. Todos os sócios aprenderam a linguagem semafórica e assim passavam mensagens, como os escoteiros quando se comunicam à distância

O problema se deu quando um dos sócios esqueceu de fechar a portinha, quando saiu do clube. A princípio, ninguém notou nada, mas, quando a ninhada nasceu, o primeiro que entrou no clube no início da noite, ouviu uns ruídos indefinidos. Ele tinha ido buscar o Manual do Escoteiro, pois não tinha ainda decorado o alfabeto de semáforas.

Na escuridão do porão, qualquer ruído tomava proporções assustadoras. Com o medo que deu nele, não encontrou a caixa de fósforos e acabou dando o grito fatídico:

-Ai! Que medo! 

Foi o bastante para a gata, que estava tentando acomodar seus cinco filhotes no vão da grade de respiro do clube, assustada, passar pelas pernas do não menos assustado sócio. 

O menino saiu espavorido do porão, espalhando por toda a redondeza, que tinha sentido a presença de um fantasma no Clube.

Adeus Clube da Cambada, agora proibido para maiores e... para menores. Só ficou dele uma vaga lembrança na memória de quem o frequentou...

Mariluiza Campos

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