sábado, 29 de janeiro de 2011

SP: Um livro do qual gostei muito - O livro dos segundos socorros

Doutores da Alegria - O LIVRO DOS SEGUNDOS SOCORROS - 


Quem já acompanhou de perto um filho, um sobrinho, enfim, uma criança doente hospitalizada, irá entender porque gostei muito deste livro.
De acordo com os Doutores da Alegria, "ficar doente não é nada engraçado, mas, mesmo nessa condição, crianças não deixam de ser crianças". Elas continuam querendo brincar, mesmo hospitalizadas. Então, o tema do livro é: reconhecendo a dificuldade daquele momento, colaborar para uma melhor qualidade de vida, durante a hospitalização.
Muito interessante e engraçado é o PEQUENO DICIONÁRIO DE SEGUNDOS SOCORROS, onde surgem palavras como:
Algordão - algodão para pacientes gordos
Bula - mulher do bule
Esparadrops - esparadrapos para chupar
Hosquintal - a parte dos fundos de um hospital
Pomagda - pomada especialmente desenvolvida numa farmácia de manipulação para uma moça chamada Magda.
Tem também o CALENDÁRIO DE ENFERMÉRIDES que marca dias especiais como: O dia da Língua, O dia do Arroto, O dia da Brincadeira, Dia do Papo Furado, Dia do No Fim dá Tudo Certo, etc, etc.
Creio que os pequeninos gostarão muito do: O QUE É, O QUE É?
Por que a dra Florinda não consegue dormir? Ora, porque ela pintou o quarto com cores berrantes!! Além de tudo isso, há nesse livro, jogos e muitas outras brincadeiras, para que as crianças hospitalizadas não percam a capacidade de se divertir durante o tratamento e período no qual aguardam a recuperação.
O texto final e coordenação editorial são do Marcelo Duarte e Wellington Oliveira, com ilustrações do Orlando, editora Panda. Boa leitura!

Um abraço a todos,

Regina Sormani

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SP: Quintas (44)

O COMPANHEIRO DO JUVÊNCIO


ENTREVISTA

Adalberto Amaral, o Menino Juquinha, companheiro de "Juvêncio, O Justiceiro do Sertão", na Rádio Piratininga na década de 60, ainda trabalha em rádio, em Descalvado, interior de São Paulo. O encontro entre ele e o escritor Marciano Vasques resultou nesta entrevista.

MV – Conte-nos sobre aquela época.
AA - Estávamos nos anos 60. O mundo fervilhava em mudanças radicais de comportamento. No Brasil aproximava-se 1.964 e os jornais teciam as notícias de uma guinada para o comunismo através de simpatias do presidente Jânio Quadros, ao oferecer a mais alta comenda do Brasil - a medalha "Cruzeiro do Sul" - ao ministro de Cuba, Ernesto Che Guevara. O vice - presidente João Goulart também iniciava uma visita à China Comunista. Os grandes jornais de São Paulo estampavam as notícias – Diário da Noite, de Assis Chateaubriand, mais moderado, e o seu principal concorrente – o Jornal Última Hora. Os cafés no centro de São Paulo, perto da Panair do Brasil, estavam sempre repletos de gente ávida por noticias. A TFP – Tradição, Família e Propriedade - preparava a famosa passeata conhecida como  "A Marcha da Família pela Liberdade". A Televisão engatinhava e o grande sucesso à época era o rádio. Em São Paulo a Rádio Piratininga, na Rua 24 de Maio, comandava programas ao vivo, que eram retransmitidos por repetidoras e alcançavam quase todo o Brasil.
MV -  Fale um pouco da programação da Piratininga.
AA - Às 18 horas iniciava-se o programa sertanejo "Terra Sempre Terra", apresentado ao vivo.   Nele cantaram os caipiras que mais tarde viriam a ser conhecidos internacionalmente. Duplas como Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhana, Pedro Bento e Zé da Estrada, Palmeira e Biá, encantavam com suas vozes os entardeceres e inundavam o interior do Brasil através das ondas da Piratininga. Meia hora após entrava no ar, em forma de seriado, "Juvêncio, O Justiceiro do Sertão".
MV – Como era feito o Juvêncio?
AA - A trama era composta basicamente por oito rádio-atores que formavam o "Cast", dois contra regras e o operador de som – Machado Filho, carinhosamente chamado de "O equalizador de som". O Produtor era Reinaldo Santos, o autor da música "Casinha Pequenina", que foi a trilha sonora do filme do Mazzaropi, que teve o mesmo nome. Era ele quem escrevia os episódios. E a letra (pouco conhecida) da música de abertura era assim:
Adeus Morena /Eu já vou indo pro sertão/
 Se não voltar/ Deixo contigo o coração/
Sou justiceiro/ Não tenho medo de ninguém/
Enfrento tudo sozinho/ Só tenho medo do meu bem.
Após a abertura, começava o seriado com o vozerio (feito pelos atores ao mesmo tempo).
MV – - Pode nos relatar como eram as cenas?
AA  - Uma das  cenas era de vários bandoleiros comandados pelo bandido Cicatriz (vivido por Geraldo Jacote), que esperavam no mato, para emboscar um viajante que tinha sido chamado pelo padre da cidadezinha para conter a onda criminosa dos assaltantes. Longe do microfone, o contra - regra amassava entre as mãos um pedaço de papel celofane que soava como passos no meio do mato. Irritado com o barulho feito pelos passos dos comparsas o bandido Cicatriz diz:
(Cicatriz) –Silêncio cabras! Vamo pegar o forasteiro.
Ainda longe do microfone, o contra - regra agora bate com duas bandas de coco dentro de uma bacia de água - o que dá o som de um cavalo andando pelo leito do rio. Para passar a cena ao ouvinte, o ator Vicente Lia, que fazia o papel do Juvêncio:
(Juvêncio) -  Oaa Corisco! – Devagar. Vamo pelo rio que é pra não deixar pista pros bandoleiros.
Um acorde grave e curto e o sonoplasta colocam o relincho de um cavalo.
(Juvêncio) – Que foi Corisco? (novo relincho do cavalo e o contra regra desta vez faz movimentos repetidos e rápidos dentro da bacia de água).
A voz do bandido Cicatriz soa bem longe do Microfone.
(Cicatriz) – Agora cabras!  Atirem!
O sonoplasta coloca o som de vários tiros com o barulho de ricocheteio de balas. O som de relincho do cavalo dando a impressão de que o animal estava a cair na água.
Entra a trilha sonora e o locutor diz com a voz forte.
- O que acontecerá? Ouçam amanhã neste mesmo horário... Juvêncio, o Justiceiro do Sertão!     
Esta seqüência durava meia hora, e sempre ficava no ar uma situação de perigo que seria resolvida no capítulo seguinte. Com essa técnica prendia-se o ouvinte e o obrigava a acompanhar no dia seguinte o desfecho da cena.
MV – Fale um pouco mais dos recursos disponíveis.
AA - Naquela época não se tinham os recursos de som de hoje. Havia um disco de vinil, importado, que reproduzia alguns sons utilizados na novela: barulhos de tiros, relincho de cavalo, mas, a maioria dos sons era produzida no estúdio mesmo! Por exemplo: Barulho de passos no mato eram feitos com papel celofane, também utilizado para reproduzir o som de uma fogueira. O som de um trovão era produzido por meio de uma folha de zinco agitada violentamente. O som do tropel de vários cavalos era feito com as mãos batendo em compasso nas pernas.
Quem entrasse em um estúdio de gravação naquele tempo acharia tudo aquilo cômico, com tanta parafernália que os contra-regras inventavam para reproduzir os mais diversos sons para ilustrar a cena da novela radiofônica. Mas tudo era levado muito a sério, e tinha que dar tudo certo, pois as novelas eram transmitidas ao vivo.
MV – O que acontecia quando o programa ao vivo terminava?
AA - Terminada a novela o grupo ia até um café que tinha na Avenida São João, bem em frente ao Largo Paissandu, o "Ponto Chic", conhecido como "O Bar dos Artistas" porque todas as terças feiras, reuniam-se ali muitos empresários de circo e de teatro do interior que vinham ajustar os shows. Era comum se ver ali duplas, como: Léo Canhoto e Robertinho (que realizavam um show de bang-bang), Cascatinha e Inhana, Lio e Léo, mágicos, palhaços, e outros artistas que faziam daquele estabelecimento um "escritório" para acertar os futuros shows. O Bar até possuía um reservado nos fundos para os mais famosos. Com o grupo do "Juvêncio" não era diferente. Era lá que se contratavam os shows que seriam apresentados nos fins de semana em circos e teatros   do interior Paulista.
MV - Por que acabou o Juvêncio?
AA - Veio o golpe militar e junto a censura severa à imprensa e aos meios de comunicação.
Os capítulos da novela passaram a ser escritos com muita antecipação e tinham que passar pelo crivo da censura, que muitas vezes cortava cenas inteiras. A novela passou a ser gravada para posterior apresentação.
Alguns anos mais tarde, em meio ao anos 70, a euforia tomava conta do País com a seleção canarinho indo para disputar a copa do mundo. Todo mundo cantava "Pra frente Brasil". A censura continuava e o programa foi julgado impróprio para o horário, passando a ser transmitido as 6h00 da manhã. Mesmo assim resistiu até ao fechamento da emissora em 1974.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SP: Entrevista de Galeno Amorim para "O Globo"

Minha gente!
Segue entrevista de Galeno Amorim, associado da regional SP da AEILIJ para o jornal O Globo de 24/01/11.
Abraço,
Regina Sormani


Galeno Amorim confirmado na última sexta-feira como novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) vai administrar a distribuição de obras para seis mil unidades públicas gerenciadas por prefeituras, além de traçar os rumos da oitava maior biblioteca do mundo em acervo.

Ex-secretário de Cultura de Ribeirão Preto e com passagens pelo governo Lula, inclusive na FBN, ele foi incumbido pela ministra Ana de Hollanda de preparar o terreno para a criação do Instituto Nacional de Livro e Leitura.


- Quais serão as prioridades de sua gestão à frente da Biblioteca Nacional?

Eu gostaria de acelerar o processo de inserção da Biblioteca Nacional no cenário brasileiro e também no cenário internacional. E, em outra ponta, gostaria de fortalecer o Plano Nacional do Livro e Leitura, de forma a ampliar o acesso ao livro e aumentar o índice de leitura no Brasil, que hoje é de 4,7 obras lidas por habitante por ano.

- Como ampliar esse acesso?

É possível buscar com o setor privado a criação de um livro popular. Seria um livro mais barato, sobretudo para esse novo leitor que vem das classes C, D e E. A principal forma de acesso ao livro é via biblioteca pública. Mas, ao mesmo tempo, é preciso criar condições para as pessoas poderem comprar um livro mais barato. Isso é importante para o leitor, que aumenta suas possibilidades; para as editoras, que recuperam produtos fora de catálogo e podem criar subprodutos; para o autor, que pode ampliar a quantidade de exemplares; e também para as livrarias, que podem oferecer um produto diferenciado. Pode, por exemplo, haver uma livraria popular, como são as farmácias populares.

- Mas isso seria feito através de subsídios do governo?

Não necessariamente. Eu fiz uma consulta informal a entidades do livro. A ideia é desenvolver uma ação para que os editores percebam que existe a perspectiva de venda. Algumas empresas que atuam em outro segmento, como a Avon no caso da venda de porta em porta, conseguem fazer com que um livro que sairia por R$ 40 na livraria chegue ao consumidor por um preço três ou quatro vezes menor, justamente porque a editora tem a certeza de que o livro será escoado. Além disso, o governo pode muito bem dar uma garantia de que vai adquirir uma parte dos livros para ser distribuída a bibliotecas públicas.

- Num primeiro momento, haverá alguma mudança no gerenciamento da Biblioteca Nacional?

A Biblioteca Nacional terá toda a responsabilidade pela política pública do livro e da leitura no Brasil. Hoje, existe uma Diretoria de Livro, Leitura e Literatura e também existe o Plano Nacional de Livro e Leitura. Ambos devem vir para a Biblioteca Nacional, e eu terei a responsabilidade de preparar a criação do Instituto Brasileiro de Livro e Leitura. Esse instituto será o responsável pela gestão das políticas públicas da área, e, quando isso acontecer, a Biblioteca Nacional vai se dedicar exclusivamente para a Biblioteca Nacional.

- Esse instituto terá o mesmo conceito do Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram?

Exatamente, será o Ibram do livro e da leitura. Ainda não consigo estabelecer um prazo, mas é a grande demanda do povo do livro.

- O senhor chegou a trabalhar na Biblioteca Nacional no governo Lula. Quais foram os principais avanços na época?

Eu fui coordenador geral de livro e leitura da Biblioteca Nacional. Fui para lá em 2004, para formular um programa em que todos os municípios brasileiros tivessem sua biblioteca. Na época, o orçamento para a área era em torno de R$ 6 milhões. No ano seguinte, eu articulei com o senador Tião Viana, e ele apresentou uma emenda que aumentou os recursos para R$ 26 milhões, que nos ajudaram a criar as condições para zerar o número de cidades no Brasil sem bibliotecas.

- Quanto falta para se alcançar essa meta?

Falta pouco. No último levantamento, faltavam poucas dezenas, e apenas em municípios para os quais o MinC oferecia o kit com o acervo básico e o computador, mas as prefeituras ainda não tinham feito a instalação. Isso acabou motivando que o ministério suspendesse, em dezembro, o repasse de recursos para prefeituras que não instalaram suas bibliotecas.

- É claro que é importante que se tenha bibliotecas em cada município, mas isso não garante a leitura. Como fazer com que a sociedade e a biblioteca se encontrem?

O Plano Nacional do Livro e Leitura foi criado em 2006 como resposta para esse questionamento. São quatro eixos: a democratização ao acesso; a formação de mediadores de leitura como bibliotecários e professores; a valorização da leitura no imaginário coletivo, através de campanhas ou inserção de situações de leitura em programas de TV; e a economia do livro, com programas que incentivem pequenas editoras e pequenas livrarias, entre outros fatores. Quando você põe os quatro eixos em funcionamento, você estimula as pessoas a lerem.

- Discute-se muito a possibilidade de uma nova Lei do Direito Autoral. O tema mobilizou o último governo, mas a ministra disse que vai reavaliar o projeto. Como o senhor enxerga a questão?

Uma coisa é consenso: é importante que as legislações sejam sempre atualizadas à luz dos novos tempos. A ministra tem se posicionado de forma prudente, mostrando-se aberta a ouvir as várias partes envolvidas. E de uma forma muito serena, ela já sinalizou que vai apreciar essas várias argumentações. E eu me alinho completamente com essa visão. Todos nós temos conhecimento da necessidade de se promover avanços. O material que os criadores produzem tem o valor de seu esforço e dedicação, e isso precisa ser respeitado, e por outro lado os leitores precisam ter algum direito de ter acesso a essa produção acumulada pela sociedade.

(André Miranda)
(O Globo, 24/1)

domingo, 23 de janeiro de 2011

SP: Parabéns São Paulo pelos seus 457 anos!

Meus queridos!

Na terça-feira, dia 25 de janeiro, data em que completa 457 anos, Sampa receberá de volta a biblioteca municipal Mário de Andrade, localizada no centro da cidade, com acessos pela Rua da Consolação, 94 e Av. São Luís, (biblioteca circulante) próxima à Praça da República e Av. Ipiranga.
O prédio ficou em reforma durante três anos, e o investimento chegou a 17 milhões de reais numa parceria entre o BID e a Prefeitura. Além da fachada, o sistema de climatização foi modernizado, tendo sido instalados aparelhos de ar condicionado em todas as áreas de acervo. A segurança também foi reforçada para a proteção dos livros raros. Os paulistanos terão acesso a 327mil livros.
A reforma da biblioteca Mário de Andrade é um dos passos para a revitalização do centro da cidade. 
Um beijo a todos, boa leitura e bom feriado.

Regina Sormani

sábado, 22 de janeiro de 2011

RJ: Novidades no blog de Rui de Oliveira

Rui de Oliveira, grandioso mestre da ilustração, avisa que postou novidades em seu blog.

Este espaço é uma excelente referência para os interessados em ilustração de literatura infantil. Lá, além de instigantes e emocionantes imagens, podemos desvendar um pouco os misteriosos caminhos da criação deste grande nome: Rui de Oliveira.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SP: Quintas (43)

VERSOS E RUPTURAS DE UMA ALMA PEREGRINA
Sobre o livro
SER Sobreviver em Ruptura,
de Carmen Ezequiel


O primeiro e-book que li foi o livro de Carmen Ezequiel, intitulado "Ser- Sobreviver em Ruptura" uma compilação de inflorescentes joias de uma adolescência limitada pelas circunstâncias próprias da idade.
Carmen tem marcos em minha vida. Foi a primeira blogueira que conheci fora do Brasil, no caso, Portugal, aquele que ela carrega em sua doce alma. Passamos a nos acompanhar, e ela, claro, se tornou uma diretriz emocionante nesse trajeto paralelo e às vezes protagonista da vida.
O texto de Carmen me comove pela intensidade dos estilhaços poéticos que ela arremessa em cada verso, e, no seu caso, uma palavra de vez em quando basta.
Suas palavras são vibrantes, seus verbos, raios fulgurantes de uma alma incansável, que aposta na vida sob quaisquer circunstâncias. É uma poeta para quem Atlânticos são meros detalhes em se tratando de distâncias.
Prefiro pausar nos momentos que me tocam de imediato. Sou fã da palavra. E a dela é profunda, autêntica, pura e cristalina. Sabe onde está o garimpo.
Um dos momentos: "Uma só noite, onde um passatempo infeliz chorou...". Pronto, Já me pegou. Poetas apostam corrida com as ventanias, bem já sabemos, e deixam a sua contribuição ao mundo. Esse é o poema "Dois Rumos". Carmen merece ser divulgada. E de coração. E ser lida, e torço para que isso aconteça brevemente no papel. E esse poema que abre o imenso universo desse coração português, nos fala de paixões teimosas. Que elas vivam para sempre!
Passo por poemas de amor, confessionais, mas que declaram algo precioso para o leitor. O tempo é curto, por isso então o seu poema cresce, se expande, e se torna aflito, numa doce aflição que nos resgata o melhor de nós, aquilo que não se pode ocultar quando estamos nas mãos da poesia.
Se Carmen me emocionou sempre como pessoa, como poeta devolve para minha alma o prazer de ler. É estética, é aventureira, é cuidadosa.
Mas vamos ao livro:
Um café costuma ser solitário. Esse é o seu requinte da alma, esse é o seu estatuto: Diriam os bêbados que ainda bebem as últimas luzes da madrugada. E é num poema assim que ela expõe a velha e nunca ultrapassada dualidade mente&corpo.
Continua em seu amoroso confessionário, com poemas românticos apropriados para os que sofrem errantes na arte de amar. Um dos poemas recebe o título de "Estranha dependência", mas é isso mesmo.
O poema mente verdades inatacáveis. "Não preciso de ti". Continua Carmen no seu velejar poético falando de amor, de loucura, de quereres, de angústias.
Alguns poemas revelam um certo misticismo, clamam por anjos, pedem ajuda, buscam o transcendental. A personagem do poema é jovem, "Vinte anos é um sopro".
Já em 4 de Outubro de 1997, vai confessando que amadureceu. O poema "Para Sempre" é tocante. A menina que é mulher que é menina, que é criança, que é louca menina, mulher.

Foi bom Carmen Ezequiel ter recolhido esses poemas. Assim pude ter o privilégio de conhecer a sua trajetória. Ninguém é apenas o momento que passa. Ao contrário, é o desfrute de uma história, uma implantação de sulcos e de hematomas, que traduzem a alma.
" O silêncio do teu sorriso faz falar o meu olhar de alegria". Lá estou eu em outro poema. E sigo em frente. "Ser poeta é ser alguém". Não se esqueçam.
"Na descoberta de mim" enveredei pela poesia, e Carmen Ezequiel bem fez em reunir poemas de várias fases de seu crescimento. Agora, depois dessa varredura "espiritual", ela está pronta para a grande ruptura, na qual irá emergir acima da vida cotidiana e das coisas que não se movem.
Se me pediu para que lesse o seu livro, deve entender que faço tal coisa com o coração, esse é o meu olhar. Alguns poemas são andanças, trilhas, como "Astrologia", são ensaios, breves monografias, pensares. Em 2002, 2008, lá vai ela, agora dizendo o que é, o que deve ser.  E vem nos dizer o que é saber viver, em plenitude.
Realmente, Carmen, a poeta, é um ser em ruptura. A moça do Alentejo, de signo cigano, reside num local onde pode finalmente melhor olhar as estrelas.

MARCIANO VASQUES


Um comentário:

Mitinha Gaiteira23 de janeiro de 2011 10:29
Obrigada!
Para obter o livro em papel ou em e-book entre no link anexo:
http://www.corposeditora.com/site/mostra_obra.asp?idcoleccao=29&idobra=503

Que bom que as minhas palavras chegam a tantos outros quer seja pelo mar ou pelo vento, quero simplesmente que cheguem.
Adorei, amigo Marciano.
Beijo com carinho
Carmen Ezequiel

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SP: Vice-Versa de janeiro de 2011

Meus queridos!

O Vice-Versa de Janeiro é com a escritora e roteirista Diane Mazzoni e o ilustrador Bruno Grossi da regional AEILIJ MG. 
Parabéns aos dois e um enorme abraço a todos.

Regina Sormani


Diane Mazzoni (Minas Gerais, 1983) é escritora de literatura infantil, criadora e roteirista do estúdio de ilustração Turadinhas.com. Seus trabalhos sempre envolvem a comunicação, a arte e a cultura.
dianemazzoni@gmail.com

Begê (Bruno Grossi – Minas Gerais, 1979) trabalha com ilustração, literatura,cultura e arte. Desenvolve ilustrações e tirinhas para o Turadinhas.com, também ilustra livros infantis, cartilhas, histórias em quadrinhos e tudo o que vê pela frente. 
begeilustrador@yahoo.com.br


Diane responde

1- Diane, você como roteirista, como é o processo de construção de um livro infantil em cima de um texto pronto que o autor te envia?

É um trabalho que a gente tem que usar e abusar da imaginação. Eu normalmente leio e releio os textos tentando sentir mesmo em que parte melhor se encaixa a ilustração, em que parte a ilustração pode ajudar mais a criança a compreender a mensagem e em que ponto o texto pode ganhar mais vida e fantasia com a ilustração...

2- E na criação de tirinhas como você desenvolve o tema. De de onde vêm as ideias para produzir?

As ideias para as tirinhas surgem mais do nosso dia-a-dia mesmo. Muitas coisas que acontecem na nossa vida, se você for parar para pensar são cômicas, trágicas, passamos muitos apertos por aí, não é? É só tentar pensar nessas situações com uma dose de humor que dá para fazer umas piadinhas a partir daí. Muitas ideias vêem também de acontecimentos políticos, econômicos e de notícias do que acontece no Brasil e no mundo.

3- Como escritora, de onde você tira esta sensibilidade de se comunicar com o mundo infantil através de seus poemas e textos?

Não sei, mas acho que me mantive um pouco criança até hoje. Dizem que isso é bom... Gosto muito de crianças, da espontaneidade e criatividade delas. Tento entrar nesse mundo, tento me divertir ...

4- Hoje você trabalha com ilustração e cultura. Como é trabalhar com essas duas áreas ecomo você desenvolve estes trabalhos?

Pessoalmente são áreas que gosto muito... Trabalhar com arte e cultura parece que alimenta a alma, deixa a gente mais feliz, de certa forma. Afinal, estamos lidando com coisas belas, com a estética... Acho que sempre que estamos trabalhando com ilustração, estamos contribuindo culturalmente, pois é algo que diverte, faz refletir, instiga a imaginação. Um dos últimos trabalhos que realizamos, por exemplo, foi a ilustração de uma cartilha sobre Folia de Reis, voltada para o público infantil, com o objetivo de aproximar mais as crianças dessa tradição regional tão rica.


Bruno responde

1- Bruno, como você acabou entrando nesse mundo da ilustração, se profissionalizando nesse mercado?

Comecei brincando, desde criança já desenhava os personagens de desenho animado da época nas capas dos meus cadernos e até fazia umas revistinhas em quadrinhos e vendia hehehe. Depois disso, nunca mais parei de rabiscar, estava sempre com um caderninho na mochila. 
A oportunidade de me envolver mais com a ilustração surgiu em 2005 quando dei início aos primeiros traços do Turadinhas.com. Logo depois, em 2006, montamos uma empresa e tivemos força para trabalhar e viver de ilustração.

2. O que vocês ilustradores estão fazendo para se fortalecerem como profissionais?

A ilustração hoje ainda não é considerada profissão, este é um dos tópicos que mais abordamos em rodas de conversas, em grupos de e-mail e associações. A preocupação maior é a de se profissionalizar, ter respeito e direitos de um trabalhador comum, com oportunidade de carteira assinada, aposentadoria, etc.
Eu, além de desenhista, sou um grande pesquisador e divulgador desta área. Criei o PORTAL DO ILUSTRADOR que possibilita que ilustradores de todo o Brasil se conheçam e troquem “figurinhas” sobre ilustração, dificuldades e experiências e divulguem seus trabalhos. 
Já estamos bem próximos do milésimo usuário cadastrado.
Imagine uma união de mais de 1.000 ilustradores. Um local em que todos podem aprender, negociar novos trabalhos e crescer profissionalmente. Além de ser uma vitrine para empresas e editoras contratarem os serviços de cada um.

3. O que mais te inspira e o que mais te motiva como ilustrador? 
Como surgem as ideias para as ilustrações e como é o seu processo criativo para desenvolvimento das ilustrações de um livro infantil?

O que me inspira é entrar neste mundo mágico. É dar vida ao texto. Como sempre digo “Ilustrar é sonhar com as mãos”. Podemos fazer o que quisermos, é só colocar no papel, isto é incrível!
Quando sou contratado, eles enviam o texto, a roteirista examina e já especifica as ideias para as cenas, assim, ela me passa e eu ilustro, seguindo o roteiro para ficar o mais próximo possível da ideia do livro. Quando pego um texto corrido, na medida em que leio já vou criando os personagens, cores e imagens na cabeça. É uma viagem completa e eu amo isso.

4. Até onde você quer chegar com seu lápis?
Quais são seus próximos passos e planos para o futuro?

Quero ser um ótimo profissional. Ter o meu traço e a minha linha de criação própria. Desejo ser lembrado pelos meus desenhos como muitos ilustradores e cartunistas são. Tenho o Turadinhas para me ajudar a realizar este sonho. Fazer tirinhas e cartuns para alegrar a todos que as lêem. Fazer ilustrações personalizadas para os clientes ficarem super felizes e contentes com o trabalho. Afinal, a vida é uma diversão, não é mesmo? Nada melhor do que trabalhar se divertindo!


Um comentário:

Bruno Grossi - BEGÊ19 de janeiro de 2011 09:18
Muito obrigado pela oportunidade Regina. 
Um grande abraço e sucesso
BG

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MG: Cineclube Sabotage

Como alguns ilustradores de literatura ligados a AEI-LIJ também estão ligados a animação, posto aqui a divulgação para um bom evento de animação traduzido por nossos caipiras e que, claro, interessa a todos. (Enviado por Bruno Grossi)

Neste sábado, dia 15/01/11, de 15h às 16h30, haverá "Mostra Udigrudi Mineira de Animação e Oficina de Imagens", no Centro Cultural Padre Eustáquio, com direito a pipoca.

Veja os filmes que serão apresentados:

Direitos Humanos para Crianças | Fernando Rabelo | 12' | animação | 2008

147 | Marcelo Tannure | 4 min | Nova Lima, MG | animação | 2010

Uma Eu Queria ser Um Monstro | Marão | 10 min | Rio de Janeiro, RJ | animação | 2009

LELÊ | Carlos Dowling & Shiko | 4 min | João Pessoa, PB | animação | 2008

A Ilha | Alê Camargo | 8 min 47 seg | Brasília, DF | animação | 2009

O urso no precipício, Bear at the cliff | Woon Bing Chang | 2 min | animação | UK, Malaysia | 2009

Pombo: impossível | Lucas Martell | 6 min | animação | Austin, USA | 2009 | Almoço – Lunch | Irina Golina Sagatelian | 1 min 20 seg | animação | Israel | 2010

ENTRADA GRATUITA

Centro Cultural Padre Eustáquio
Rua Jacutinga, 821 - Padre Eustáquio - BH - MG (Dentro da Feira Coberta)
Tel. 3277-8394 / 3277-7269

SP: Pé de meia literário (15)

Intenções para 2011

Vá lá: 2011 já caminha a todo vapor e, penso, não cabem mais as formalidades das felicitações da chegança do ano novo. Mas... passei boa parte do mês de dezembro calculando e escrevendo e refinando textos e emoções para enviá-los a pessoas do meu relacionamento, as quais prezo. Esqueci de pensar felicitações para mim. Coisas da vida. Razão pela qual peço licença aos meus eventuais leitores destas esparsas linhas para pensar alguma coisa nesse sentido.

Em 2011 me desejo ler muito. Ler de tudo, de receita de bolo dietético a bilhetes de filhos, de resenhas de livros a textos dos meus chegados em seus blogs, sites e similares, de poemas a biografias, de respostas formais ou informais das editoras aos meus emails e textos a contratos de livros novos, de editoriais de jornais a matérias de suplementos infantis, de livros novos dos amigos e colegas a sucessos do Jabuti e outros bichos mais, de textos sobre leitura a resoluções dos conselhos nacionais, sejam eles de educação, de cultura, de meio ambiente, de reportagens sobre a corrupção deslavada de nossos políticos a sentenças judiciais que procurem colocar mais decência em nosso comportamento.

Em 2011 me desejo reler alguns livros. Poucos, pois o tempo haverá de ser dividido com outras coisas boas, mas desejo criar brechas necessárias para reler A Casa dos Espíritos, Confesso que Vivi, Cem anos de Solidão, Pedagogia da Autonomia, Ética para Meu Filho, O Príncipe, Cândido, Melhores Poemas do Manuel Bandeira, entre outros.

Em 2011 me desejo escrever mais. Não tanto, como me desejou o amigo Pedro Bandeira, mas um pouco mais do que consegui nos anos anteriores. Idéias, propostas e desejos não faltam.

Em 2011 me desejo aprofundar algumas reflexões sobre algumas poucas coisas (sobre as outras, canto com o Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar). Entre elas, o tal politicamente correto na literatura, as cláusulas contratuais dos contratos que assinamos profissionalmente com as editoras e a importância da ética em nossa sociedade.

Em 2011 me desejo ler (ou reler) algo mais da obra lobatiana, coisa que não fiz na infância e juventude interioranas pobres recursos e de livros. E entender se o que ele fez em Emília no País da Gramática se enquadra na categoria de obra literária ou obra didática.

Em 2011 me desejo um esforço para reunir todos os textos que já escrevi sobre leitura, leitura da literatura na escola, formação de educadores leitores, comportamento leitor e caminhos para incentivo aos programas de formação de leitores e encontrar um santo predestinado que tenha interesse em publicá-los numa coletânea. Publicados aqui e ali, distribuídos aqui, ali e acolá, em seminários, palestras, workshops e debates, sempre com razoável aceitação, me desejo a ousadia de publicá-los para mais gente ler e pensar e discutir questões que dizem respeito a todos nós militantes da arte de ler e escrever.

Em 2011 me desejo falar mais para plateias que queiram ouvir sobre literatura, leitura e sobre programas de incentivo à leitura. Falar e ouvir de volta o que verdadeiramente rola nos bastidores, longe das estatísticas hipócritas de órgãos públicos. Falar e tentar convencer meus ouvintes de que ler é um santo remédio e que em doses certas pode curar males da ignorância, do mau humor, da impaciência, da intolerância, da vista curta, dos amores mal resolvidos, etc.

Em 2011 me desejo ser menos ranzinza, sem perder o senso crítico, já que este passei outros tantos anos de minha vida procurando construí-lo. Nessa caminhada espero descobrir porque passamos boa parte da vida dizendo que é necessário construir o homem autônomo e crítico, mas raramente aceitamos críticas.

Em 2011 me desejo rir mais. Rir de mim e das nossas muitas contradições e dos nossos muitos comportamentos ridículos.

Em 2011 me desejo mais paciência e tolerância para aprender a lidar com a velhice. Nada dessa burocracia consumista de “melhor idade”, mas a compreensão desta etapa complexa e inexorável da vida.

Em 2011 me desejo continuar botando em prática um slogan que sempre me propus seguir – e tentei passá-los aos meus filhos: é gostoso gostar das pessoas.

Enfim, atrasado, eis aí a minha carta de intenções para este ano, já nem tanto, novo. E que estas sejam minhas intenções para a melhoria do meu pé de meia, literário ou não.

Que venha 2011.


Edson Gabriel Garcia
Educador e Escritor



3 comentários:

Puck15 de janeiro de 2011 08:15
Este comentário foi removido pelo autor.

Puck15 de janeiro de 2011 08:16
Eu poderia ser informado quanto ao procedimento para conseguir uma autorização para a apresentação da peça de pedro bandeira " o fantástico mistério de feiurinha", pois eu entrei em contato com a AEILIJ, mas não obtive resposta.

Maristela Melo17 de janeiro de 2011 16:25
Fiquei muito feliz, pois seu Ano Novo vai ser maravilhoso!!!! Te desejo muito tudo isso que voce se desejou... Adorei, com licença tambem desejo pra mim... rir mais e ler mais.
Beijos

SP: Quintas (42)

RAPUNZEL FOI AO CINEMA


Ontem faltou energia elétrica, justamente na hora em que eu me preparava para escrever "Quintas". O que trouxe de volta a saudade do meu risinho quando alguém dissertava sobre as vantagens do mundo virtual quando eu ainda insistia que preferia o papel. A luz voltou na madrugada. E só agora, cá estou para a "Quintas".
Fui ao cinema. Autor que sou de Literatura Infantil, não perco um lançamento. Acompanho de perto e dentro do cinema tudo o que anda acontecendo. E assisti ao "Enrolados". Já antecipo que discordo do nome do filme. Merecia outro título em Português: talvez "A Princesa Perdida".
Tenho acompanhado o cinema para crianças, e mantive a minha posição de que na última década três foram os filmes que realmente a criança merecia. "Spírit, o Corcel Indomável"; "A Noiva Cadáver" e "A viagem de Chihiro" de Hayao Miyazaki. Gosto de decorar nomes de cineastas. Considero-me um dos homens mais felizes do planeta, e devo isso a eles também.
O cinema infantil andou errando, e feio. Quando a DreamWorks, a fábrica de sonhos de George Lucas e Steven Spielberg lançou no mercado das ilusões o Shrek, teve um propósito que o público desconheceu, e isso pouco importa: desbancar o império Disney. De que forma? Desmoralizando os contos de fadas com um filme para adultos, que as crianças, claro, adoraram. O simpático e nada politicamente correto ogro e seu burrinho arrancaram gargalhadas no cinema. Depois perdeu a graça.
Mas com a chegada do ogro, a Disney precisava reagir. A reação até demorou. Antes deu a louca no cinema, com bobagens como "Deu a Louca Na Chapeuzinho" e "Deu a Louca na Cinderela". E vieram produções sem graça como Carros, essa da Disney&Pixar.
Pois bem, mas a Disney começou a investir novamente nas princesas. E surgiu "A Princesa e o Sapo". Lindeza que só. Ao mesmo tempo, Tim Burton nos trouxe "Alice no País das Maravilhas". Não posso me esquecer de "Encantada", da Disney, claro.
Com as suas princesas, Disney manteve e mantém a magia e o encantamento. É o tal "Mundo Maravilhoso". Vamos aprendendo com o cinema, que o "Era uma Vez" é para sempre.
O curioso é que a Disney alterou sim os contos, mas não desmoraliza jamais, apenas inova, torna contemporâneo, atualiza, para o bem ou para o mal, o encantamento.
Não contarei nada da história da moderna Rapunzel (Enrolados), pois sei que todos os leitores, e principalmente os escritores de Literatura Infantil irão querer assistir.
Mas é pura magia, e puro encantamento. Disney, o altamente revolucionário (na época em que surgiu) deixou um império que está aí para mostrar que o mundo maravilhoso está num planeta que as crianças adoram, o planeta tela grande.
Alterou? Modificou? Sim, a origem, a "mitologia" da Rapunzel agora é outra. Na verdade, o cinema está conseguindo realizar, aos trancos e barrancos, aquilo que nenhum escritor de Literatura Infantil conseguiu. Atualizar, sem destruir o encanto e a magia, os contos de fadas e os contos maravilhosos. Mas, calma!, por enquanto: "A Princesa e o Sapo" e agora esta linda e emocionante Rapunzel.
Novos elementos mágicos, e uma nova Rapunzel surge diante da imaginação das crianças. Já é no meu entender, uma referência. Fará parte do imaginário. Difícil crer que só a outra Rapunzel sobreviverá, haverá um entrelaçamento na imaginação da criança.
Se a Rapunzel primeira é filha de um casal de camponeses, se ela é retirada de sua mãe ao completar 13 anos, se numa madrugada da gravidez o pai tenta roubar rabanetes de um quintal (esse é o nome de Rapunzel em Alemão), ora, agora a Rapunzel é outra. Não tem a origem pobre, e está bem atualizada, de acordo com o pensamento , os trejeitos e a linguagem das meninas e dos meninos de hoje, sem vulgarizar.
Em 3D, a mais bonita cena (Não me recordo de ter visto algo tão encantador no cinema infantil antes) do filme, a cena das lanternas. É  de balançar corações e emocionar qualquer um.
Sim, fui ao cinema, para ver Rapunzel. E vi que a Rapunzel está diferente.
Está linda, encantadora e mágica.
Viva o cinema? Sim, viva!

MARCIANO VASQUES

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

MG: O escritor-brinde

ilustração de Laz Muniz

Essa é mais uma daquelas histórias de que divulgação e tapinha nas costas enchem barriga, compram remédio, pão e leite e prosperam um futuro que coloca até os filhos na faculdade.

Esse cartum aí em cima foi para ilustrar uma matéria do escritor Pedro Bandeira, no boletim de outubro de 2010 da AEI-LIJ, sobre o descaso das escolas para com os escritores que são convidados a palestrar e acabam passando por situações constrangedoras, como se fosse uma obrigação do escritor fazer tais visitas... de graça!, já que as escolas estão comprando das editoras o seu livro.

Péraí!!! Compram das editoras mas, e o escritor, o que recebe pelo tempo investido, as viagens quilométricas pelo Brasil afora até essas escolas e seus confins, e hotel, banho, alimentação, etc!? Uai, cumpadi! Sai do bolso do escritor, ué!!! Escritor é tudo rico milionário famoso e glamourioso! 

Em um dos momentos do texto, Pedro Bandeira relata uma de suas visitas junto à Marcia Kupstas à uma escola particular, conversando com uma senhora professora: "(...) havia organizado uma festa para as adolescentes da escola e havia convidado um atorzinho da Globo, desses que estouram em determinada novela e são totalmente esquecidos em seguida, para dançar uma valsa com a “sortuda” aluninha sorteada para realizar este “sonho de Cinderela”. E disse-nos a dita senhora que o evento fora um sucesso e que o tal atorzinho havia cobrado “apenas”... 3 mil dólares de cachê!"

E quem disse que escritor precisa de dinheiro!? Escritor é igual ilustrador, vive de luz e amor à arte!

do blog de Laz Muniz

MG: O escritor e jornalista Leo Cunha completa 20 anos de literatura e poesia

Bom, amigos, vamos lá!

Nada melhor do que começar o ano com boas novas e, claro, iniciar nosso blog da regional mineira da AEI-LIJ com um brinde de bom motivo!

Nesse 2011 que se inicia, nosso companheiro Leo Cunha, escritor e jornalista, doutor em cinema pela UFMG, mineiro de Bocaiúva e residente em Belo Horizonte desde 1969, completa 20 anos de carreira dedicados a literatura infantil e juvenil, com mais de 40 títulos publicados, traduções e antologias poéticas, crônicas e contos. Dentre eles Em Boca Fechada não Entra Estrela, publicado na Revista Alegria da Editora Abril em junho de 1991, dando início a sua longa estrada que, agora, o torna um veterano das letras. Posteriormente, Em Boca Fechada não Entra Estrela torna-se livro, pela Ediouro, com ilustrações de Roger Mello.

Nesse tempo, Leo Cunha vem fazendo diversos parceiros, como  Luiz Antônio Aguiar, Pedro Bandeira, Rosana Rios, Rogério Andrade Barbosa, Rosa Amanda Strausz, Ricardo Benevides, André Salles-Coelho, Marcus Tafuri, Eliardo França, Roger Mello, Graça Lima, Nelson Cruz, Marilda Castanha, Guto Lins, André Neves, Flavio Fargas, Salmo Dansa, Angelo Abu, Gilles Eduar, Ana Raquel, Laz Muniz, Daniel Kondo, Anna Gobel e muitos outros, tornando-o cada vez mais afiado.

Seu primeiro prêmio literário foi o  João de Barro, com As Pilhas Fracas do Tempo e o Concurso Nacional de Histórias Infantis do Paraná, com Pela Estrada Afora. Depois, vieram vários outros, como os prêmios Nestlé de Literatura, Jabuti e FNLIJ.

Pra conhecer de pertinho os trabalhos deste autor fantástico e versátil (tem que comprar seus livros, claro!) acompanhe-o em sua coluna diária no Twitter, com Frase & Verso, recheado de muito bom humor entre poemas, aforismos, palíndromos e pérolas como: "Deu no Globo.com: "Estado de Chico Anysio piora". Coitado do Ceará...". Conheçam também seu site oficial e a revista eletrônica de cinema Filmes Polvo.

A AEI-LIJ e todos os seus companheiros associados e amigos parabenizam o Leo Cunha pelos 20 anos que vem tornando a caneta em mágica de fazer história e poesia. Mais novidades sobre o Leo vem por aí, aguardem!

Sou Laz Muniz, ilustrador,
e de vez em quando vou rabiscar algumas palavrinhas para vocês, por aqui.
Para escrever sobre o Leo, me baseei em texto formulado por ele mesmo, via seu FaceBook
e informações contidas nos respectivos links na matéria.
Sintam-se em casa!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SP: Página do Ilustrador - Monika Papescu

Nesta edição apresentamos Monika Papescu
Monika nasceu em São Paulo numa família de artistas. Formou-se em Comunicação Visual e seguiu para Londres onde estudou Graphic Design e Multi Media pelo Westminster Institute e Ilustração pelo Chelsea College of Art. Voltou a São Paulo, formou-se em cenografia, figurino e indumentárias pelo CPT – SESC e Produção Gráfica no SENAC-SP.
Mora hoje com esposo e as filhas Rafaela e Nina em Santo Antônio da Patrulha - Rio Grande do Sul, num sitio com gata, éguas, ovelhas, carneiros, cabras, lagartos, tartarugas, codornas, galinhas e segundo suas palavras "nem sei mais quem".
Escreveu e ilustrou vários livros; outros mais ilustrou; fez ainda capas de revistas.
Desenvolve pequenas animações e faz bonecos para contar histórias.
Participa de feiras de livros, festivais de contadores e projetos de leitura no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Desenvolve projetos de incentivo à leitura em municípios do interior como o "Semear em Glorinha" em Glorinha - RS e "Arquipélago - de Atlantis e Açores" na APAE de Santo Antonio da Patrulha - RS.
Recebeu o prêmio de melhor figurino de teatro amador com o espetáculo “O Flato ou a Comédia da Vida Privada” 1999 e melhor animação pelo Prêmio Gaúcho de Arte Eletrônica 2008.


"Como diz o Papescão, meu pai, “o que é fácil não tem graça”. É por isso que sou uma eterna estudante e fuçadora de novidades seja de técnicas, materiais, equipamentos ou o que for.
Gosto de estar sempre renovando e surpreendendo a mim mesma. Assim como nunca percebemos nosso próprio sotaque, eu demorei a perceber meu estilo. Hoje fico muito feliz quando as pessoas reconhecem meu trabalho no meio de tantos outros.
Nas minhas ilustrações eu uso e abuso da cor, dos contrastes, das complementares, das texturas que fazem as imagens saltarem. Ilustração tem vida própria, resta a nós criá-las (sem pretensões divinas).
Eu trabalho com ilustração em várias linguagens e dimensões; ilustrações no papel, cenários, bonecos e um pouco de animação. E tem dado certo pois recebi o prêmio “artistas gaúchos 2009” de melhor animação e sou finalista no “prêmio artistas gaúchos” para melhor ilustrador.
Neste trabalho para os “áudio-livros” eu me preocupei com a textura pois o público destas obras são pessoas de baixa ou nenhuma visão. Apesar das capas dos CDs não terem textura, isso me serviu como ponto de partida para criar e a idéia é expor todo o processo de estudos e desenvolvimento nos encontros da narradora com o público alvo em centros e institutos especializados.
A primeira ilustração foi feita em linogravura. A imagem de um rosto andrógeno e o mundo inserido na história sai ou entra pelos ouvidos que são os olhos dessas pessoas."



O passo seguinte foi apurar o entendimento da imagem, mudei então para o papel cortado.



E por fim apliquei as cores.





Para cada projeto eu gosto de conhecer o autor, conversar, saber das preferências e, antes de aceitar o trabalho, penso muito para saber se eu me encaixo no perfil do livro e do autor. Aprendi que não posso aceitar um trabalho e passar pelo sufoco de desenvolver vários estudos, rascunhos, ilustrações e nunca agradar ao autor ou à editora pois no final todos sairão frustrados e um livro é para a vida toda.
Convido a todos para uma nem tão breve visita ao meu site, para conhecer meus outros trabalhos e peço que façam seus comentários, pois é bom saber o que as pessoas da mesma área têm a dizer.
Tudo de bom.
Papescusss"

Bibliografia de Monika Papescu:
Escreveu:
  • “Acorda o Sol, Don Aderbal”, editora Autêntica, 2010
Escreveu e ilustrou:
  • “Peixinhos”, editora Formato 2008
  • “1, 2, 3 da Bicharada”, editora Studio Nobel, 2002
  • “A B C da Bicharada”, 2ª edição, editora Studio Nobel, 1999
  • “O rapto das Flores Cantantes”, editora Paulinas, 1997 (esgotado)
  • “O Crocodilo Gigante e a Mosca que não era dessa história”, o Estadinho, 1996 - SP
  • “À procura da Máscara”, editora Loyola, 1994
Ilustrou:
  • “as meninas da janela”, de Jonara Nifa, 2010
  • “Outras fábulas”, coleção do projeto Livro Livre, texto de Cristina Marques 2010
  • “Áudiolivros: a cultura da inclusão” narração de obras literárias por Letícia Schwartz (capas dos encartes dos cds) 2010
  • “jogos de inventar, cantar e dançar, texto de Viviane Juguero, ed. Livreto 2010
Capas dos cadernos do Cilégio Objetivo (2009):
  • “Minicontado”, texto de Ana Melo, 2009 (capa) 2009
  • “Viver e aprender português de 1º ao 5º ano” editora Saraiva, 2007 (didático)
  • “A Menina que descobriu a Noite”, editora Ícone, 2001: texto de Pámela Duncan
  • “A velhinha que mudou o tempo”, editora Paulinas, 1996: texto de Juciara Rodrigues
  • “Português Palavra e Arte”, editora Atual, 1996 (didático)
  • Capas de revistas “O Hebreu”e “Beit Chabad”, 1996 – SP
Para conhecer mais o trabalho de Monika Papescu acesse:
www.monikapapescu.com
Contatos:
E-mail:monika@monikapapescu.com 
Telefone: 51-8222-5774

ILUSTRADOR
Gostaria de divulgar seu trabalho na página do ilustrador?
Mande mensagem para contato@danilomarques.com.br


3 comentários:

  1. Muito ilustrativo, adorei.

    Estevão Machado Athaydes
  2. Muito bom! Parabéns pela inspiração.
  3. Parabéns, Irma!!
    O seu trabalho é realmente muito bom! Criativo, sensível e vivo!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Canto & Encanto da Poesia - Magia Atlântica

Caros associados!

O poema MAGIA ATLÂNTICA é de autoria de Fábia Terni e foi premiado no Concurso RAÍZES, de contos e poesias, em Genebra, 2008.

Um grande beijo,
Regina Sormani


MAGIA ATLÂNTICA 

Verde o silêncio do labirinto silvestre.
Verde a amplitude da mata densa.

Disparam volumosos troncos,
exuberância selvagem
nas profundezas da floresta.

Floresce o mistério
da simetria verde-vermelha
da helicônia
em cada curva da trilha,
ao som do vento,
da umidade serpenteando
pela mata.

Move-se ao longe
o som das ondas,
rebentam nos paredões abruptos.
Turbilhões de espuma
galgam alturas deslumbrantes.

Bromélias cor de fogo,
líquens e orquídeas de real beleza
em simbiose com amendoeiras centenárias.
Tempo mágico!
A natureza abriga e ampara.

A natureza te observa
mas não julga,
te aceita como és,
te acolhe como vens,
e te oferece a sua presença.

Sentirás então a alegria
de quem não está mais só.
Pode ser apenas um instante,
a mata é tua amante.

No fim da trilha,
a Praia dos Sonhos.

FABIA ATLÂNTICA TERNI LEIPZIGER 
01 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SP: Mural - Janeiro de 2011


NÚMERO 15 - JANEIRO DE 2011
O Mural é uma agenda cultural postada todo início de mês,
porém, editada ao longo do mês conforme os eventos surgem.
A agenda das bibliotecas é renovada semanalmente.
Amigo associado de qualquer cidade do Estado de São Paulo, contribua... 
aguardamos notícias dos eventos do interior. 

___________________________________
RODA DE LEITURA
ELÉIA LEU

Em edições quinzenais, os poetas Berimba de Jesus, Caco Pontes, Gabriel Kerhart, Gabriel Kolyniak, Pedro Tostes e Valter Vitor coordenam uma roda de leitura, oferecendo um cardápio de poemas, organizado em torno de temas que propiciam a interlocução entre diversas linguagens, escolas e modos de fazer e pensar poesia.
3as feiras, das 19h30 às 21h30

CURSO

Iniciação à Redação do Texto Poético
Com Gilson Rampazzo
O curso propõe o exercício de redação de poemas e possibilita, para isso, o domínio de algumas técnicas básicas da poesia. É um curso eminentemente prático e não há a intenção de formar escritores, ao contrário, pretende-se desmistificar a excepcionalidade da produção poética: o poema é um texto que se aprende como qualquer outro.
Inscrições a partir de 1º de outubro, pessoalmente ou pelo telefone 3082-5023
5as feiras às 19h30

Vamos Ler?!!!
Coordenação: Ângela Figueredo e Márcia Marur
Programa que divulga a importância e a prática da leitura junto à crianças e jovens.
2as feiras das 9h às 10h e das 14h às 15h

local: BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
Rua Henrique Schaumann, 777
Pinheiros 05413-021 São Paulo, SP
Tel. 11 3082-5023
Horário: 2ª a 6ª feira das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
Núcleo de Poesia: 2ª a 6ª feira das 8h às 19h e sábado das 9h às 16h
Coordenadora: Ana Teresa M. Toledo
bmalceualima@yahoo.com.br
___________________________________
AGENDA DA LIVRARIA CULTURA

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Gostaria de divulgar algo?
mande um e-mail para contato@danilomarques.com.br

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SP: Quintas (41)

ALADOS  ESCRITORES NO ESPÍRITO DA ÉPOCA

A ampliação do conceito de escritor é uma novidade contemporânea, e certamente afilhada da tecnologia.
Houve um tempo em que a ideia de ser escritor estava vinculada ao sujeito que fazia livros. Escritor era aquele que publicava, editava, lançava um livro. "Eu sou escritor, então tenho que lançar livros, produzir livros, escrever livros!"...
Alguns ainda pensam assim:  o escritor deve é lançar livros, escrever livros, cada vez mais. Sim, isso também, mas o conceito foi alargado, a semântica se expandiu.
Hoje o escritor é bem mais. De certa forma, sempre foi, porém todos os afazeres ficaram de certa forma ocultos. Escritores e poetisas foram jornalistas, escreveram crônicas em jornais e fortaleceram com o viés da literatura o matutino espírito do leitor. Além disso, como cidadão, todos os escritores tiveram vidas próprias, e foram políticos, uns mais, outros menos. Alguns até abraçaram a carreira política, no futuro vieram a se arrepender. Jorge Amado bem disse que a sua mais fraca fase de produção literária foi quando esteve envolvido com partido político, mas isso é outra história.
Ocorre que com o advento da tecnologia e a informática inaugurando uma nova era, que está gradualmente substituindo a era humanista, a enterrando de vez, o conceito de escritor expande-se de forma formidável.
O escritor que acreditar que a sua função, ou missão, será unicamente a de fazer livro, estará ultrapassado pela expressão da voz dos tempos.
Não que o livro deixará de ser importante, isso não. O livro continuará tendo a sua importância, seja para enfeitar algum móvel, seja para transformar uma pessoa. O que acontece é que o escritor hoje lida com as múltiplas linguagens da arte e da palavra. Ele tornou-se um ser de atuação, terrivelmente envolvido com o seu tempo e o seu dizer. Além de escrever, fazer livros, terá o seu blog, o seu site, promoverá a poesia e a arte, a palavra e os sonhos. Divulgará a literatura do seu contemporâneo, a literatura que quer-ser-lida, de seus iguais.  E assim, fará, pois já está sendo transformado numa múltipla oficina sem retorno.
Assim como desmoronou e não cabe mais uma torre de marfim, é possível dizer que escritor é o sujeito que milita na palavra, na escrita, que expõe o seu pensamento e o seu sonho literário em colunas, de jornais, de revistas, em sites e blogs...
Escritor é também um crítico literário, um divulgador da cultura. E o escritor que tiver o seu espaço na internet, por exemplo, para divulgar apenas a sua obra, para falar apenas de si, certamente terá fama passageira, o seu nome será efêmero. Viverá na ilusão de que o espírito da época ainda anseia pelo "Escritor", ou seja, aquele que é só ele. A transformação que alguns já se deram conta é que só sobreviverá aquele que cedeu à própria condição de ser alado, e voa sobre as cidades espalhando a sua verdade: a literatura tornou-se algo além de si, universalizou-se de vez, anuncia o novo tempo, onde o ídolo não cabe, o escritor só-para-si já se foi. Em seu lugar um novo se multiplica em doces teceres. Sem se perder.

MARCIANO VASQUES

domingo, 2 de janeiro de 2011

SP: Quintas (41)

OS QUE NUNCA SUBIRAM A SERRA


No roseiral da manhã vagava a rosa em minha mente quando o avô Pedro vagarosamente caminhava pelas ruas de Ouro Fino.
A visão de seus passos com as folhas caindo e atapetando as pedras foi uma das primeiras dádivas que os meus olhos receberam.
Na calma da rua os gansos partilhavam conosco o caminho.
Anos mais tarde, ao observar a lentidão das azaléias em seu crescimento recordei-me da sua silhueta num ocaso de formidáveis nódoas se desprendendo das folhagens que beiravam a rua. Tive a impressão de rever o cavalo abanando a cauda e o capim orvalhado estendido pelo campo onde ele a cismar contemplava as raízes da sua história.
Meu avô era um sábio. A sua conversa mascada de um requinte que enfeitava-me a aula por tanta simplicidade.
Tempos depois o reencontrei em Suzano. Quis perguntar sobre as conversas antigas com o meu pai. Ele deu-me uma alta gargalhada, ofereceu-a generosamente. Ofertou o seu riso largo para o ar de Suzano. Falou-me que um dia seria um pássaro.
Foi a última vez em que o vi.
Mês depois recebemos a carta que falava do vôo do nosso querido Pedro.
A avó ofereceu-me um dia uma fatia de pão com um excesso de manteiga que encheu meu coração de alegria. Jamais esqueci da sua mão trêmula, repleta de fibras, nervos e manchas, a me ofertar o pão. Traduzi aquele gesto como uma das formas que o amor encontra para se manifestar.
Quando ela ficou viúva fugiu para um sitio. O seu marido foi morto pela polícia do governo e foram atrás dela, que era acusada de comunista.
Quando a policia apareceu no sitio procurando por uma viúva encontraram-na com o avô Pedro que a apresentou como sua companheira. Eles foram deixados em paz. Os homens procuravam uma mulher sozinha.
Eles sempre viveram entre Santos, Ribeirão Pires, Ouro fino e Suzano. Jamais conseguiram subir a serra por completo. Lembro-me de ouvir dizer que eles moravam em Suzano e voltavam pra Santos, depois moravam em Cubatão e iam para Ribeirão Pires, depois estavam novamente em Santos. Comecei a compreender que na verdade eles nunca subiram a serra para valer.
Às vezes me punha a imaginar como seria o meu avô vivendo numa cidade com edifícios altos, trânsito veloz e barulhento, gente correndo nas calçadas, ar difícil de respirar. Todos iriam pedir para ele sair da frente e ele iria tossir sem parar.
Na porteira do Brás, na Praça Clóvis, no Parque Dom Pedro, na Avenida São João. Bem que eu quis algumas vezes que ele estivesse comigo, para entrarmos num cinema, para um churrasco grego, uma crush, para eu lhe apresentar a cidade. Porém sempre me lembrava de que ele era feito das folhas das matas que beiravam as suas andanças e da neblina das suas manhãs.
Quis também muitas vezes que a minha avó pudesse estar comigo diante de uma vitrine, entrando numa loja, experimentando um vestido novo. Até quis que ela se sentasse comigo nas escadarias do Teatro Municipal! E quando chegou o Metrô, se ela ainda estivesse viva eu a teria buscado para andar por baixo da cidade.


MARCIANO VASQUES